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Resenha: Altera, Audionova, Zimbra e Selvagens à Procura da Lei @Teatro Odisseia

Por Natalia Salvador | @_salvadorna

No último sábado (23/7), o Teatro Odisseia reuniu mais uma vez bandas da cena independente para um público inicialmente pequeno e tímido. O (péssimo) hábito de encher a casa para as últimas apresentações da noite parece ser difícil de mudar.

Aos 45 do segundo tempo, a banda Altera entrou no line-up e chegou como show surpresa. Por volta das 17h os paulistanos subiram no palco, cheios de energia, para mostrar as músicas lançadas recentemente no EP de estreia – homônimo. Apesar de o público ainda estar chegando ao evento, os presentes não fizeram feio e marcaram a primeira apresentação da banda na cidade maravilhosa.

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Logo em seguida, quem subiu ao palco foram os cariocas da Audionova. Com um som mais calmo, cantaram e encantaram os (muitos) casais e famílias presentes. O trio é cheio de sintonia e mostrou que quantidade não é nem de longe sinônimo de qualidade. Os caras ainda trouxeram um cover de Arctic Monkeys, ‘R U Mine?‘.

Quando as luzes do palco se acenderam em tom de azul, era sinal de que os santistas da Zimbra estavam chegando para apresentar as músicas do disco novo, “Azul“. Com uma quantidade maior de presentes, a galera acompanhava o vocalista, Rafael Costa, que, mesmo sem guitarra por algumas músicas, mostrou para o que vieram. Com a licença do trocadilho, o público “reagiu bem” à apresentação de ‘Trem‘ e tinha todas as letras na ponta da língua. Vale comentar que os instrumentos de sopro dão um toque especial à apresentação e músicas.

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Os cearenses da Selvagens à Procura de Lei foram recebidos com palmas pela galera, que acompanhou o show pulando do início ao fim. As quatro vozes se complementam no palco e acabaram ganhando uma forcinha a mais vinda da plateia. Em ‘Mar Fechado’, por exemplo, amigos se abraçaram e cantaram juntos. Na hora de ‘O Amor é um Rock 2′, a tradicional rodinha punk se manifestou e seguiu até o fim. Na última música, ‘Mucambo Cafundó’, Gabriel Aragão virou o microfone para a galera, que encerrou com a energia lá no alto. Mais uma vez, o público carioca mostrou que a banda pode (e deve) voltar mais vezes ao Rio de Janeiro.

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Resenha: Far From Alaska, Stereophant e Hover @Imperator

Por Alan Bonner | @Bonnerzin | Fotos @GustavoChagas

Em tempos de fim da Rádio Cidade/RJ e com os meios de comunicação mais populares dando cada vez menos espaço para o rock e suas vertentes, uma pergunta ronda a cabeça de quem é fã do estilo: o rock está “morrendo”? Bem, para quem esteve no Imperator (no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro) no último dia 13/07 a resposta, com certeza, é não. E quem justifica a resposta são as arrebentadoras Hover, Stereophant e Far From Alaska, que comemoraram o Dia Mundial do Rock com uma festa inesquecível para quem estava lá.

Quem abriu os trabalhos foi uma das favoritas do Canal RIFF. Os petropolitanos da Hover entregaram, como esperado, um ótimo show, com um setlist dominado por músicas do álbum “Never Trust The Weather”. A banda mostrou, em sua segunda passagem pelo palco do Imperator, que já está mais do que pronta para os grandes palcos e públicos, pela boa presença de palco e pela boa música que fazem ao vivo.

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A seguir, os cariocas da Stereophant subiram ao palco para um show que fez os presentes se empolgarem muito! Vimos mosh pits, refrões cantados em voz alta e uma interação bastante próxima com o público, que parece já acompanhar a banda há tempos. E, claro, uma sonzeira absurda, com destaque para a guitarra criativa de Vinicius Tibuna. Com certeza, o show mais divertido de se assistir da noite.

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Por fim, tivemos a banda que, junto da Scalene, vem encabeçando o novo front de batalha do rock brasileiro e que vem mostrando que o estilo está longe de estar acabado por aqui. Trata-se dos potiguares da Far From Alaska, que estão lotando casas ao redor do Brasil (e do mundo, tendo ganhado o prêmio de banda revelação no MIDEM Festival 2016 e feito vários shows nos EUA). E não é por acaso. A banda faz no palco um som bem semelhante ao que é o álbum de estúdio “modeHuman”. A qualidade dos músicos impressiona bastante, sem contar no carisma incrível de toda a banda, principalmente da vocalista Emmily Barreto. Um show obrigatório para o fã de rock do mundo todo.

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Quem diz que o rock está morrendo ou que não tem mais espaço talvez só não compreendeu ainda que os tempos mudaram e ele ocupa outros lugares. Não está mais na TV e no rádio. Está na internet, e, principalmente, num lugar onde sempre esteve: nas casas de shows. Sejam elas pequenas, médias ou grandes. Distantes ou próximas. A melhor maneira de se experimentar o rock é pessoalmente, frente a frente, ao vivo. Essa é a melhor forma de se apoiar as bandas (em todos os sentidos, principalmente o financeiro) e manter viva a chama desse estilo que amamos. Portanto, quem ainda tem dúvidas precisa parar de se questionar e ir até as bandas e os shows, para que a pulsação se mantenha e nosso querido rock não morra.

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Resenha: Nove Zero Nove, Syren, Cara de Porco e No Trauma @Roquealize-se | Marechal Hermes

Por Igor Gonçalves | @igoropalhaco | Fotos: Jefferson Braga

Riffeiros, sábado (16/7) foi o dia do Roquealize-se! O vacilão que vos escreve se deslocou até Marechal Hermes para assistir (parte) desse festival que comemorou três anos de existência. Já começo com um pedido de desculpas às duas primeiras bandas (Back in Drive e Intrépida), já que não consegui chegar a tempo de assistir e deixo prometido aqui minha presença em futuras oportunidades.

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Syren @2016 | Jefferson Braga

Sem quaisquer sons de sirene, Syren subiu ao palco. A banda (que já é bem conhecida no underground, elogiada por famosos músicos e produtores internacionais e com uma turnê na América Latina na bagagem) apresentou um heavy metal seguro, bem característico e com uma poderosa setlist composta por dois álbuns já lançados. O vocalista tem uma voz poderosa e o guitarrista dá conta dos solos já esperados no gênero. Senti falta de uma segunda guitarra para adicionar peso ao som. Essa questão de adicionar novos membros é mais complicada do que parece. Vai além de encontrar um guitarrista bom. O quesito mais importante na verdade acaba sendo entrosamento. Gostei muito da Syren e com certeza irei à futuros shows. Vou torcer para que encontrem (se estiverem procurando) um guitarrista base pois seria (na minha opinião) uma excelente adição!

Algo que me surpreendeu muito no evento foi a quantidade de famílias formadas que compareceram. Crianças corriam para todos os lados, mas principalmente entre os brinquedos que foram postos ali na praça. Isso com certeza contribuiu para o clima alegre do evento. A organização do evento disse que achou muito importante ver a futura geração ali presente. Algumas das crianças podem muito bem se tornar público desse festival e de outros semelhantes quando a hora chegar. Segundo os organizadores do evento (Renan Sparrow, Alysson Bravo, Henrique Ralsi, Indio Dimc, Paula Puga e Thays Gabrielle), com certeza foi o maior público geral dentre as edições do festival.

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Nove Zero Nove @2016 | Jefferson Braga

Em seguida, a queridinha da Lapa assume o palco. A Nove Zero Nove (Spoiler alert: em breve terá material conosco no YouTube e uma singela entrevista com a Presidenta! #descubra) já havia conquistado meus ouvidos com seu (auto-intitulado) rock alternativo e suas letras extremamente presentes. O show foi arrebatador. A presença de palco absurda deles torna impossível que você não, no mínimo, balance a cabeça. Teve roda. Teve sing along. Teve emoção. O instrumental é de qualidade e… Enfim. Conquistaram mais um fã.

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Cara de Porco @2016 | Jefferson Braga

A eficiência da Cara de Porco em unir os sentidos das palavras amor e violência é absurda. O show punk da banda se resume à uma roda digna do gênero, figurinos exóticos e muita… MUITA energia gasta. Cheguei a tomar uma generosa cotovelada no rosto e perdi um pouco de sangue no meio da roda, mas como diz o lema e refrão da banda: “Quem tá no rock, é pra se fuder!”. Eu descreveria a Cara de Porco como “hematomas divertidos”. Já o guitarrista da banda (Lucas Rodrigues) disse que descreveria a banda como “nada agradável” (o que me fez lembrar da cotovelada…). Mesmo com o prejuízo, o show terminou e deixou um claro sentimento de “quero mais”.

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No Trauma @2016 | Jefferson Braga

No Trauma foi a última banda da noite e já teve problemas causados pela chuva ainda durante a montagem do palco, o que afastou o público menos compreensivo e paciente. Após os impedimentos climáticos, os mais sábios e pacientes foram recompensados com a excelência da que considero uma das melhores e mais profissionais bandas do underground nacional. O Viva Forte Até o Seu Leito de Morte (álbum lançado no final de maio) está um prato cheio para os metaleiros de plantão. As qualidades sonoras e técnicas das músicas são surpreendentes! O ao vivo das músicas é ainda melhor.  A bateria microfonada e o peso vindo da guitarra e do baixo se somam com o gutural e deixam o headbanging ainda mais prazerosos. Você que tá passando pela bad, invista seu tempo num show da No Trauma. As letras lhe arrancarão de lá e o instrumental colocará seus ânimos lá em cima!

Fiquem ligados contarei nos próximos dias como foi minha aventura por Guapimirim com Surra (SP), Maieuttica (RJ), Sobcerco (RJ) e outras no último domingo.

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Resenha: menores atos, Incendiall, Estado Livre e Divine Glory @República Pub

Por Alan Bonner (texto e fotos) | @Bonnerzin 

Festas de aniversário costumam ter alguma bebida que é a sensação da festa – e que deixa todo mundo bem feliz. Na festa de aniversário do República Pub no sábado passado (9 de julho), o drink da noite era o puro suco do underground! Os ingredientes dessa explosão de sabores foram algumas colheres bem servidas de menores atos, flambadas pela Incendiall e temperadas por pitadas de Estado Livre e Divine Glory. Tudo isso servido num recipiente perfeito para essa combinação explosiva: um local com toda pinta de um “rock club” em uma cidade importante para o cenário independente, como é São Gonçalo/RJ.

A noite começou com os niteroienses da Divine Glory e seu post-hardcore que toca em temas espirituais com uma boa dose de peso. A banda, composta por Wallace Freitas (vocal e guitarra), Johan Muniz (bateria e vocal) e Lucas Lassance (baixo) tocou as músicas do recém-lançado EP “Nunca É Tarde” e fez uma abertura de noite de respeito.

Estado Livre @2016
Estado Livre @2016

Os gonçalenses da Estado Livre vieram a seguir com um hardcore repleto de críticas sociais e muita fúria. A banda voltou à ativa recentemente e soltou toda a energia acumulada no palco do República Pub em um show intenso, que fez a galera se animar bastante.

O show seguinte foi o mais aguardado de alguns meses para esse riffeiro que vos escreve. Era a segunda apresentação dos cariocas da Incendiall, que voltou aos palcos no mês passado e já promete álbum novo e shows com bandas de peso como Plastic Fire e Pense. O show contou com algumas músicas do “Sobre status, cartões e cheques” e do vindouro novo álbum, e deu pra sentir que os caras estão com sangue nos olhos para gravar e tocar. O hardcore agradece!

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menores atos @2016

Por fim, tivemos os emocionários da menores atos, provocando uma verdadeira catarse no República. Um show “curto, porém intenso”, como a banda tem feito desde o lançamento do aclamado “Animalia” (2014) e que tem feito o público cantar cada vez mais alto nos shows. Tão alto que dava pra ouvir as vozes mesmo estando colado na caixa de som (o que não era difícil, pelo espaço pequeno). Essa energia do público foi o ingrediente que faltava para ferver o caldo e tornar a noite completa. Às bandas que resistem, fazem seu som a despeito das dificuldades, aos que promovem shows dessas bandas, às pessoas que apoiam o cenário independente… um brinde!

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Resenha: Young Lights e Astronauta e Seus Amigos @Teatro Sesc Silvio Barbato

Por Tayane Sampaio (texto e fotos) | @Tayanewho

Aos domingos, em Brasília, as ruas e avenidas são vazias. A cidade não é tomada por aquele enérgico burburinho jovem, como acontece em outras capitais, e a maioria das pessoas dedicam o dia à família e atividades leves, como uma caminhada no parque ou uma volta de bicicleta no Eixão. À noite, não é muito diferente. Existe, sim, um movimento aqui e acolá, mas Brasília é dominada pela Lei do Silêncio, que inibe grande parte das manifestações culturais que poderiam e deveriam tomar conta do centro do Distrito Federal.

No último domingo (10), aconteceu a quarta edição do Brasília Sessions, com shows das bandas Astronauta e Seus Amigos (DF) e Young Lights (MG). O projeto surgiu com o intuito de movimentar a cena local, ocupando espaços da cidade e apresentando os novos artistas ao público. Sempre com um ambiente intimista e acolhedor, o projeto busca conectar pessoas por meio da música.

Astronauta e Seus Amigos 1

A Astronauta e Seus Amigos foi a primeira banda a subir no palco do Teatro Silvio Barbato. Aproximadamente às 20h10, Pedro Rodolpho (vocal, teclado e sintetizador), Marcella Imparato (bateria), Paulo Vitor Amuy (baixo) e Pedro Carvalho (guitarra) entraram em cena, iluminados, quase que exclusivamente, por projeções que passavam no fundo do palco. O quarteto apresentou ao público brasiliense as canções do “Wanderlust” (2016), seu trabalho de estreia, que é o resultado final de ideias que foram aperfeiçoadas nos últimos três anos.

É difícil encaixar o grupo em um gênero musical, pois eles passeiam por vários estilos. Com músicas cantadas em português e inglês, a banda vai de sonoridades atmosféricas e densas ao doce violão folk. Após o show, que te leva em uma viagem espacial, com direito a bonitas paisagens e harmonias que transitam do space rock ao shoegazing, fica mais fácil entender o porquê do nome da banda.

Astronauta e Seus Amigos 3

No começo dava para notar certa timidez dos integrantes, que estavam concentrados na execução das músicas e criaram um clima mais introspectivo. A partir da metade do show, mais ou menos, os músicos se deixaram levar pelos sons que saiam de seus próprios instrumentos e, com isso, mostraram mais entrega à apresentação. O ponto alto foi Believe, uma música doce, com participação de toda a banda nos vocais, que incentiva o ouvinte a acreditar e lutar pelos seus sonhos.

As canções da Astronauta e Seus Amigos reverberam liberdade. A banda se mostra confortável e capaz de criar várias atmosferas em um único palco. O debute, em solo brasiliense, foi memorável, mas acredito que as futuras experiências ao vivo, com maior interação entre os integrantes, serão ainda mais especiais.

Young Lights 2

Antes das 21h30 a Young Lights deu início à sua segunda apresentação na Capital. Em 2015, eles tocaram na festa Play! e, apesar do palco pequeno e de problemas técnicos, mostraram o quanto as músicas crescem ao vivo. Pouco mais de um ano depois, e com um guitarrista a menos, a banda, agora formada por Jairo Horsth (vocal, violão e gaita), Gentil Nascimento (bateria), João Pesce (baixo) e Vitor Ávila (guitarra), voltou para apresentar algumas canções do “An Early Winter” (2013) e “Cities” (2014) em um show eletrizante.

Ao vivo, a banda vai muito além do rótulo folk que a acompanha desde o seu primeiro EP. Não há dúvidas de que o folk é uma forte influência, mas, se fosse para definir o som da banda em apenas um gênero musical, eu diria que a Young Lights faz rock, e dos bons! O próximo álbum está em fase de pré-produção e, segundo o baixista João Pesce, provavelmente terá sonoridades diferentes do que já foi apresentado nos discos anteriores. Inclusive, quem estava presente também escutou música nova!

Young Lights 3

A apresentação começou calma, romântica, mas não demorou muito para transformar-se em um momento explosivo e catártico. Apesar do pouco tempo da formação atual, é quase palpável a sintonia dos integrantes. O vocalista mostra desenvoltura para se comunicar com o público e explora o palco de uma ponta a outra. A interação entre os músicos faz, muitas vezes, com que a plateia sinta que está em uma divertida jam session, só que muito bem ensaiada e executada. A evolução do grupo fica evidente na melancólica You Drowned, I Swam, que começa simples, voz e violão, e depois, com a banda completa em ação, explode em uma belíssima versão com mais sete minutos.

Nem o cansaço dos (muitos) quilômetros viajados de carro, entre Sabará, Goiânia e Brasília, em apenas três dias, tirou a energia dos integrantes, que entregaram uma apresentação digna de festivais e que impressionou quem não os conhecia. Não é à toa que os mineiros tocaram uma música a mais do que o planejado, a pedido do público, que, sem dúvidas, teve uma linda noite de domingo.

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Resenha: Riverdies, Purano e Mobile Drink @Calabouço

Por Guilherme Schneider | @Jedyte | Fotos Vinícius Giffoni

Noite de domingo, noite de rock no Rio. Atraído pelo chamado do retorno aos palcos da Riverdies (após três anos sem shows) fui ao tradicional Calabouço, em Vila Isabel, para a edição do Lithos Jam Fest no dia 3 de julho – Purano e Mobile Drink completaram o line-up. Conceito bem bacana, para um final de domingão: três bandas de rock, cerveja gelada e solidariedade.

No menu da noite o resistente grunge carioca. Separei o casaco de flanela e pedi um Uber. No caminho o motorista ouvia a Rádio Cidade (para quem não conhece, é a rádio rock do Rio). Papo bom sobre rock, comentando a programação. Mas, lá pelas tantas, o simpático motorista lamenta o momento do rock nacional. “O que temos hoje de bandas boas? Nada”.

Nada? Como assim, nada? Era justamente domingo de noite, momento quando a própria Rádio Cidade dispõe um pedacinho de sua programação para o “A Vez do Brasil”, programa que divulga bandas novas. Porém o programa só começaria às 22h, e antes disso já estava quase chegando ao Calabouço – sem ouvir nada de nacional no trajeto.

Purano

A verdade é que o tal rock nacional pulsa mesmo (e forte) no underground. Infelizmente longe das rádios e mídias tradicionais. Não é preciso ser o bienal e badalado Rock in Rio para transformar riffs de guitarra em mensagens diretas. No undeground é que se vive, e a abertura do Purano mostrou exatamente isso. Logo de cara o comunicativo vocalista Bruno Corrêa mandou a letra: “A cena são vocês”.

A cena, que vive, claro, são o “vocês” (quem frequenta) e são o eles (as bandas). Cantando em inglês e português, Purano apresentou o álbum “A Câmara Reverberante” (2015). Com mensagens bem emocionais, o show da Purano transparece sinceridade. Sabendo falar com propriedade de ternura, sin perder la porradaria jamás. Destaque para a homenagem a Jim Morrison, no dia do aniversário de sua morte.

O cover de Love Me Two Times surpreendeu. Assim como a bela House of the Rising Sun, do The Animals. A influência do rock clássico se faz presente, e ganha fôlego com ironia e até o posicionamento político dos discursos.  Mas, o destaque merece ir para as autorias. Ouça Epifania, Pecador e Espelho. Baladas boas, que cairiam bem na programação da Cidade.

Após algumas cervejas vem a hora aguardada: o retorno aos palcos da Riverdies. De certo modo é um retorno também da deliciosa sonoridade dos anos 90. Sabe? Então, aquela mesma sonoridade que prevalece radiofônica no Rio. Pois é, só que feita por bandas locais.

Sem demagogia, mas só por ouvir Still Remains já valeu a ida ao Calabouço. A linda melodia (que não está no Spotify ainda, mas pode ser ouvida aqui) do EP “Black Days dá uma pequena amostra do potencial da Riverdies. Seja nas porradas mais clássicas, como Background e I Wonder, ou nas mais lentas.

Eles apresentaram músicas novas, e, infelizmente, o show foi mais curto do que esperava. Confesso que gostaria de ouvir ao vivo as outras baladas Morning Dies Clear Like Water. Fica para uma próxima – e, ao que fui informado, não demorará tanto. Na torcida por material novo.

Mobile Drink

A noite fechou com a Mobile Drink. Confesso que fui apresentado ao som deles ali mesmo, de uma talagada só. E que apresentação do vocalista Ronan Valadão! Sua pose de rock star e voz marcante garantiram um belo cartão de visitas para o novo EP, o recém-lançado “Canções da Noite e Outros Tragos”.

Um grande momento foi a participação especial de Tiago Freitas, vocalista da brasiliense banda Etno. Juntos, Ronan e Tiago cantaram Alive, hino do Pearl Jam – mantendo a pegada grunge do evento.

Mobile Drink faz  rock autoral em português, de qualidade. Recomendo Sanguessuga Gentil, O Verdadeiro Amor e Prosódia da Vida, destaques no show – que também homenageou a memória do eterno poeta Jim Morrison. E, afinal, apesar das homenagens ao rock internacional, será que não tem mesmo nada de bom no rock nacional? As três bandas mostraram que a verdade está lá fora – nas casas de shows.

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Resenha: Gloria, Âncora, The Ocean Revives e 8mm @Teatro Odisseia

Por Alan Bonner | @Bonnerzin | Fotos @GustavoChagas

Noite de domingo (03/7) com som alto, bom e pesado no Teatro Odisseia! Quatro bandas dos mais diversos estilos do rock convidaram os cariocas a saírem da monotonia de um domingo nublado para bater um pouco a cabeça: 8mm, The Ocean Revives, Âncora e Gloria. O show foi mais uma produção da Cena Rock, que tem levado ótimos artistas de todo o Brasil para o Rio de Janeiro.

O hardcore casca-grossa da 8mm abriu a noite. O quinteto, formado por Alemão (vocal), Fabio Garcia (guitarra), Rodrigo Salgado (guitarra), Zé Freitas (baixo) e André Costa (bateria) é figurinha carimbada da cena carioca e trouxe ao palco riffs muito bem construídos, uma linha de baixo bem criativa em relação ao que se vê em outras bandas do estilo e uma bateria frenética, sustentando o vocal grave e as letras recheadas de críticas sociais cantadas por Alemão. Mesmo encarando um tipo de público que não costuma frequentar os shows da banda e tendo que passar por cima de problemas técnicos, a banda manteve a intensidade durante todo o show e agitou bastante a galera que chegava ao Odisseia.

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Dando continuidade à noite, tivemos uma surpresa daquelas que se acha saindo de casa e indo aos shows. Bandas de metalcore existem aos montes, e a sonoridade delas costuma soar repetitiva. Mas o que a The Ocean Revives (RJ) faz sai pela tangente do senso comum e toma um caminho bastante interessante. Com uma energia e uma presença de palco raramente vista em outras bandas, Charles Barreto (guitarra), Kevin Duarte (bateria), Rafael Carrilho (guitarra/vocal), Rodrigo Andrade (baixo), Rodrigo Nascimento (vocal) e Vic Corrêa (vocal) fazem um som que merece a atenção do fã do estilo. Com belas letras em português, vocais limpos e guturais se alterando de uma maneira muito agradável e uma produção de palco de dar inveja até em bandas com público grande, a banda agradou não só quem já conhecia (e que não era pouca gente, pela quantidade de pessoas cantando junto da banda) como também quem nunca tinha ouvido falar do som dos caras, como nós do RIFF que já estamos no aguardo de mais shows e mais material autorial dessa banda que tem um futuro muito interessante.

Penúltima banda da noite, a Âncora infelizmente teve pouquíssimo tempo para mostrar seu som. Mas deu pra perceber que o post-hardcore feito por Felipe Barboza (vocal) Brandon Antunes (guitarra) Rodrigo Macario (baixo) Johnny d’Avila (guitarra) e Marcos Eduardo (bateria) é original e tem uma pegada mais “tranquila” em relação às bandas anteriores. Destaque para a voz de Felipe, afinadíssimo e atingindo notas bem altas sem grandes dificuldades, e para Marcos, que sabe cadenciar muito bem o ritmo da banda.

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Por fim, depois de uma espera de anos, o Gloria subiu ao palco para desfilar sucessos de todas as fases da banda. E, como era esperado, o público já estava ganho desde a primeira música. Fazendo um show tecnicamente perfeito, Mi (vocal) Elliot Reis (guitarra e vocal) Peres Kenji (guitarra) Thiago Abreu (baixo) e Leandro Ferreira (bateria) alternaram músicas dignas de mosh com baladas que fizeram um ou outro se emocionar. O quão alto o público cantou junto e de deixou conduzir por Mi, que parecia mais um maestro da multidão, impressionou bastante. Mostrou que os Guerreiros (pelo menos os do Rio de Janeiro) continuam firmes, fortes e sedentos por novos trabalhos da banda e torcendo para que a Gloria tenha uma vida longa pela frente.

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Resenha: Radioativa, Sun7, Drops96 e 161 @Lona de Jacarepaguá

Por Felipe Sousa | @felipdsousa

Dia 2 de julho de 2016 foi a data escolhida pela Radioativa pra comemorar seus 7 anos de estrada (28/6) e de quebra os aniversários da vocalista Ana e do baixista Denny (04/7). E Junto com as bandas Sun7, Drops96 e 161 decidiram que o palco pra essa festa seria a Lona Cultural de Jacarepaguá. Já conhecido por promover atrações das mais variadas, atrativas ao público local e ser um espaço que o circuito carioca precisa, a lona mostra-se cada vez mais atuante na cena underground. Não é à toa que já levou nomes como Versalle e a própria Radioativa.

Em contraste a essa esperança do ambiente tornar-se ponto de encontro da cena, devemos destacar que a Lona merece um upgrade no visual, e a acústica não é lá das melhores; o que dificultou um pouco as bandas na passagem de som e no show. Isso, aliado à dificuldade da cena underground em captar recursos, nos levou a um pequeno atraso no início do evento. Alguns problemas técnicos, microfonias, sonoridade falha, interferiram no andamento do show. Mas, calma! Continue lendo com a gente e vai entender porque esse evento vai além dele mesmo, e porquê VOCÊ, fã de rock, é tão importante pra esses sonhadores que fazem música. Confira em quatro atos e preste MUITA atenção a partir do 2°, principalmente.

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1° Ato. Apesar de fundada em 2011, a SUN7 tem integrantes bem jovens Thay Martins (Voz principal), Vinícius Távora (Guitarra e Voz), Fábio Florenzano (Guitarra), Duka Meirelles (Baixo e voz) e Raquel Igne (Bateria e Voz). Raquel Igne, no entanto, não esteve na festa, por problemas de saúde, sendo substituída pelo seu namorado, que também é baterista, Gabriel Lopes, que com apenas um ensaio, na noite anterior ao show,fez bonito e deve ter deixado a Raquel orgulhosa. A banda deu então o pontapé inicial ao evento, que nesse momento não contava com um público grande. O Pop Rock dos meninos alternava-se entre músicas autorais e covers. Thay Martins ditava o ritmo da galera com sua bela voz e certa dramaticidade na interpretação das canções, e era acompanhada pelo baixo e guitarras performistas dos meninos cabeludos que traziam à cabeça a lembrança do gigante Slash. Ao menos no visual. Os garotos tocaram poucas músicas, devido ao tempo curto, mas deu pra notar que a banda está buscando maturidade sonora e o tempo nos dirá até onde podem ir.

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2° Ato. Fabio Valentte (Vocal), Nando Sampaio (Teclados/synths/programações), Marcio Quartarone (Guitarra), Leonardo Ugatti (Guitarra),Victor Toledo (Baixo) e Bruno Lamas( Bateria) formam a Drops96. Começou em 2006 como uma banda de colégio e, em 2010, como diz o site deles, colocaram o pé na estrada. A banda tem três álbuns sendo o terceiro, “Busque Mais da Vida”, de 2016. Todos eles foram feitos a partir de campanhas de crownfounding.

O entrosamento dos caras é visível, diante de todas as dificuldades técnicas e de estrutura do evento, botaram pra quebrar logo de inicio. Mais que triplicaram o público logo na primeira musica. Deram um ritmo frenético engatilhando uma canção atrás da outra, e o público reagiu indo à frente do palco. Apesar dos caras não apontarem uma influência direta, ou um gênero específico, o som é bem perto do pop rock, com intros e refrãos pesados, alternando com pegadas bem dançantes e uma voz potente do Fabio. Exemplo disso foi quando tocaram Estrada e agitaram a galera.

Apresentaram também um cover de Tim Maia, que com todo respeito ao mestre, ficou muito bom. A banda tirou a timidez da galera, fez cantar junto.

Fica bem claro que a Drops tem ouvido muito Foo Fighters, e CBJR, mas não param aí. O dinamismo das guitarras e pancadas na bateria faz da banda um grande talento. O que rendeu aos caras o Prêmio Melody Box – Apresentação no Circo Voador em 2011. Ouça Drops96. Melhor show da noite!

3° Ato. Gabriel Bastos (Vocal), Daniel Cardoso (Baixo), Victor Fonseca (Guitarra), Letícia Santos (Bateria) e Marcio Marques (Guitarra) formam o quinteto SuperStar da 161. Conhecida por ter participado do programa global, iniciaram o seu show com alguns problemas técnicos (assim como as outras bandas), o microfone do Gabriel defeituoso irritava o cantor, e a guitarra do Marcio pouco se ouvia. Aí você pode pensar que o show não foi legal, né? Errado! Estamos falando de uma banda que se leva a sério. Gabriel é o típico Rock Star líder de banda, daqueles que mexe com a galera, e se você for daqueles tímidos, logo mudará isso e estará vibrando com o som dos caras na frente do palco. Foi o que aconteceu. A galera não se conteve nas chamadas cheias de entusiasmo e atitude rock’n’roll do vocalista.

161 tem claras influências em Charlie Brown Jr, além de riffs inflamados. Foi nessa pegada e com uma grande performance do vocalista Gabriel, que fizeram um baita show, na garra.

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Todo mundo sabe a dificuldade que é fazer rock no Brasil. Ainda mais difícil é a cena underground. Captar recursos, engajar pessoas, se inserir na mídia. Produzir um evento nesse cenário é desafiador e perigoso. Como já falamos, encontramos essa dificuldade no evento, público pequeno, estrutura e equipamentos sem grandes orçamentos. Mas se tem uma coisa que nunca vai mudar na batalha underground é a garra dessa galera em fazer música boa e promovê-la. Vimos isso quando a Radioativa subiu no palco e encontrou tais dificuldades, e não fez nada diferente do que proporcionar pra quem estava alia insanidade que é celebrar sete anos de estrada, nesse cenário, com um show cheio de coisa boa, e com muita vitória diga-se de passagem

4° Ato. Ana Marques(Vocal), Felipe Pessanha (Guitarra), Fabricio Oliveira(Guitarra), Denny Manstrange (Baixo) e Rodrigo Aranha (Bateria) têm dois EPs lançados e quatro clipes de produção totalmente independente, fazem um pop punk, com elementos do post-hardcore passando pelo emo. E é difícil não perceber também, tanto visualmente, quanto na sonoridade, nuances do Paramore.

Logo no inicio da apresentação, a banda promoveu seu hit Esquinas e de cara, levantou a galera. Dando a todos a oportunidade de ouvir a bela voz da Ana e belos riffs também. A música é muito boa, a melodia e letra grudam na cabeça.

Logo depois o microfone apresentou problema, e é aqui meus caros, que eu explico o porquê de vocês serem fundamentais. Quando a microfonia parecia não ter fim, o público comprou a briga, CANTOU JUNTO, no gogó, me deu a certeza de que a Radioativa não era mais só uma tentativa. A Radioativa VIVE. O ROCK VIVE. Foi demais ver a interação do público que ali estava. E com certeza, foi um belo presente do público pra banda.

Depois de conseguir que o microfone colaborasse a banda mandou um cover de Katy Perry e de novo animou a galera. Mas foi Acredite com seu riff inflamado em parceria com uma bateria pesada que agitou quem ali estava.

A música de trabalho da banda Vital foi outra amostra do potencial Pop Punk da banda. Contando com a participação de Bruno Dela Cruz, que veio de São Paulo pra se apresentar com a banda.

A banda encerrou com chave de ouro cantando Você não sabe nada sobre mim, e foi talvez o grande momento do show. Outra pancada na alma dos amantes do rock.

Radiotativa 7 anos foi o show pra celebrar bandas que você precisa e deve conhecer. Falamos aqui que o evento vai além dele mesmo, e de fato vai! Se por um lado houveram problemas, dificuldades, e a produção ficou a desejar; por outro, a garra e o som que mostraram merecem chegar no seu ouvido e ser compartilhado. Som de qualidade, atitude rock’n’roll, personalidade e muita disposição pra dar o melhor.

Quando o RIFF te der as coordenadas de um show como esse, vá! Abraço, Riffeiros. Até o próximo show.

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Resenha: Ira e Wander Wildner @Circo Voador

Por Guilherme Schneider | @jedyte

No último sábado (25/6) o Circo Voador pôde presenciar dois nomes fundamentais do rock nacional: Wander Wildner e Ira! A noite fria para os padrões cariocas (chavão inevitável nas resenhas mais recentes do RIFF) foi muito melhor do que o imaginado. Mesmo do alto dos meus 33 anos, me senti um garoto, em um Circo praticamente lotado de quarentões e cinquentões.

Muitas vezes passamos batidos por shows assim, de figurões nacionais. Talvez por conta de uma (errada) ideia de que “podemos ver essas bandas quando quisermos”, ao menos em comparação com as gringas, mais “valorizadas”. Confesso que só havia visto o Ira! no Rock in Rio III, em 2001 – em show dividido com o Ultraje a Rigor.

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O que dizer então da abertura, do ex-Replicante Wander Wildner? Nunca tinha visto um show do bardo punk ao vivo. Certamente por conta disto eu tinha uma imagem totalmente equivocada do gaúcho. Muito por causa do “Acústico MTV: Bandas Gaúchas”, especial de 2005 que deu um gás nas carreiras de Cachorro Grande, Bidê ou Balde, Ultramen e do próprio Wander Wildner.

A imagem que (envergonhadamente) guardei foi completamente desconstruída por um show arrebatador. No palco, Wander é um cara que passa uma sinceridade absurda. Posso até estar enganado, mas o que ele canta é verossímil. Você consegue sentir mesmo aquela emoção.

O setlist foi pautado em seu mais recente lançamento, Wanclub, que saiu em março. Trata-se de uma coletânea, com regravações de diversas fases da carreira – diga-se de passagem, upgrades. Destaque para Astronauta, Mantra das Possibilidades, Eu Queria Morar Em Beverly Hills e Surfista Calhorda. Um Lugar do Caralho (Júpiter Maçã) e Amigo Punk (Graforréia Xilarmônica) deram o tom de homenagens ao aclamado rock gaúcho.

Além do comanchero velho de guerra Jimi Joe (guitarra), Wander teve a companhia do competente trio carioca Beach Combers. Rouquidão poderosa, postura rock and roll despojada, e a cara-de-pau de se denominar um ‘punk brega’ fazem dele um herói da resistência digno. Ovacionado, o magnético Wander deixou o palco com o hino Festa Punk, clássico dos Replicantes.

Logo depois foi a vez do Ira! entrar em cena. Liderado pelos lendários Nasi (vocal) e Edgard Scandurra (guitarra), o Ira! está cada vez mais família. Daniel Rocha, filho de Scadurra, é o baixista. Johnny Boy (teclado) e Evaristo Pádua (bateria) completam a banda.

Com o perdão de qualquer trocadilho, o show do Ira! foi iradíssimo! A ideia era comemorar os 30 anos do segundo álbum de estúdio, o “Vivendo e Não Aprendendo” – gravado no Rio de Janeiro e produzido pelo Liminha. Nasi cantou todas as músicas, tanto do Lado A quanto do Lado B. Algumas, como Casa de Papel, não eram cantadas ao vivo há décadas.

Mas a banda também tocou músicas de outros discos, no início e no final do show. Em Bebendo Vinho, Wander Wildner subiu novamente no palco, junto com Jimi Joe, para uma tabelinha sensacional.

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A sequência de sucessos do cancioneiro roqueiro nacional foi incrível. O público cantou alto em Envelheço na Cidade, Dias de Luta (inclusive com o seu “refrão secreto”), Flores em Você e Núcleo Base. Destaque também para a irresistível Pobre Paulista, iniciada com um direto “Pau no cu do Bolsonaro”.

Estranhamente o som do Circo não esteve em seus melhores dias, justamente no Ira!, mas nada que atrapalhasse a noite de celebração de um dos álbuns mais importantes do rock brasileiro. É um privilégio ver (e ouvir) ao vivo Scandurra, um dos maiores da história no país. Além, é claro, de Nasi, emocionado com mais uma recepção calorosa no Rio. Saiu do palco aos gritos de “Ole, ole, ola, Ira, Ira!”, aquela certeza de quem vive, aprende e ensina como pode.

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SETLIST IRA! (RJ – 25/06/16)

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Resenha: Menores Atos, Literal, Cliva e Incendiall @Planet Music

Por Igor Gonçalves | @igoropalhaco | Fotos: Fernando Valle

Por motivos de não está fácil essa vida, só hoje lhes trago a resenha do show que aconteceu no último dia 18 de junho, na Planet Music em Cascadura. Contamos com apresentações das bandas Literal, Cliva, Incendiall e também, daquela que já podemos convidar para a macarronada de domingo de tão íntimos, Menores Atos.

Nesse clima montanhoso (pelo menos para nós cariocas) muita gente encontra dificuldades em encontrar formas de se aquecer e se divertir. Sábado eu escolhi ir me aquecer em Cascadura e acabei me surpreendendo com quão além de “apenas aquecimento” o evento foi. Por isso, um primeiro agradecimento ao Luciano Paz, um dos grandes embaixadores do underground nacional. Na histórica Planet Music, um clima imediato de acolhimento e união. Era como se todos, apesar das diferenças de estilos, estivessem ali com os mesmos objetivos e mesmas expectativas.

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Literal @2016

Abrindo o evento, Literal subiu ao palco. A banda mostrou um grunge enérgico e com muita vontade. O público gostou por ter a oportunidade de fazer rodas em algumas músicas e extravasar um pouco. Eu particularmente não consegui aproveitar muito o show. Possivelmente por ter ido ao evento com uma vibe diferente ou por simplesmente não ser muito o meu estilo. Apreciadores do grunge, ouçam a Literal e depois me xinguem pelo meu mau gosto.

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Cliva @2016

A Cliva assumiu os instrumentos e, na introdução da primeira música, já fez a galera que havia sentado para tomar mais uma cerveja levantar. Fiquei feliz em conhecer a banda. Me fez lembrar muito a época de ascensão do hardcore nacional, que nos trouxe bandas como Dead Fish e CPM 22. A distorção das guitarras e a presença de palco do vocalista da Cliva (PW) com certeza influenciou no aumento de temperatura da frienta Planet Music.

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Incendiall @2016

Graças à propaganda de amigos, eu estava com uma certa expectativa para o próximo show. A Incendiall, para quem não sabe, é ex-banda do Cyro (vocalista e guitarrista da Menores Atos). Eles pararam, pois tiveram que dar atenção a questões pessoais e, durante esse intervalo nasceu a Menores Atos. A Incendiall apresenta um hardcore de raiz. Aquele hardcore de várzea que te abraça e te dá vontade de esgoelar a letra e pular. Eu gostei demais do show e eles conquistaram minha atenção. Esse ano eles estão voltando aos palcos com pequenas mudanças na formação e, segundo o vocalista (Thiago), já tem música pronta e algumas outras para serem finalizadas e fecharem um novo álbum. Uma banda que com certeza merece a nossa atenção.

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Menores Atos @2016

Chega esperada hora da Menores Atos. O baterista oficial da banda (Ricardo Mello) estava presente, mas ainda em fase de recuperação. O substituto (Felipe Fiorini) segue comandando a cozinha da banda sem prejudicar o instrumental.

Cyro, acompanhado de sua fiel escudeira Cort, deu início ao show com o tranquilizante tapping inicial de Animalia. Meus amigos, que energia! Tive a sensação de que todos sabiam as letras e cantavam em um volume respeitoso à voz do Cyro afim de não ouvir apenas as próprias vozes.

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O show arrebatou os corações presentes. É incrível a capacidade deles de fazer como se as músicas tivessem sido feitas individualmente para cada um ali. Muitos choraram sem nenhuma vergonha de demonstrar emoções enquanto berravam ou cochichavam as letras. A primeira grande participação do público veio ao final de Transtorno com o público fazendo um coro de “PREPARAR, APONTAR! PUXANDO O GATILHO!”. Na saideira Sereno, uma parte dos vocais é feita pelo baterista que, como dito anteriormente, estava presente, mas não pôde tocar por estar se recuperando de problemas de saúde. Se aproximando da parte dele, eis que sobe no palco uma pessoa da plateia e tem o microfone cedido por Cyro para, junto com o restante do público, cantar energicamente a parte do Ricardo. Em meio à stage dives, o participante devolve o microfone ao pedestal e desce (também com stage dive) do palco. Se aproxima onde seria uma outra participação de Ricardo e sobe uma outra pessoa para puxar o coro novamente. Foi uma linda noite. Garanto que sentirei uma dor no peito caso eu perca futuras oportunidades de assistir Menores Atos novamente. Por isso, caro leitor do RIFF, vá o quanto antes assistir a esse trio. Você merece.


Conheça mais de Menores Atos na RIFF Session 360º:

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Resenha: Posada e O Clã @Teatro Ipanema

Por Alan Bonner (texto e fotos) | @Bonnerzin 

Queridos riffeiros, o poeta está vivo, anda muito bem escoltado e tem encantando as multidões. E quem esteve no Teatro Ipanema na última sexta-feira (24/6) pôde ver mais um de seus testemunhos e saiu abençoado pelo som maravilhoso de Posada e O Clã. O show foi mais um fruto do ótimo trabalho da residência artística “Vem! Ágora”, que tem feito diversos eventos culturais no Teatro Ipanema, e que promete trazer mais artistas independentes da música para o seu palco nas sextas-feiras.

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Na humilde concepção desse fã de música que vos escreve, estamos vendo em Carlos Posada o Caetano Veloso da nova geração. Exagero ou não, o tempo dirá. O fato é que o sueco de sotaque pernambucano tem a alma de um poeta urbano, e traz tal faceta para o palco de uma forma ainda mais visceral do que suas composições já deixam explicitas. As letras são densas, mas a interpretação é tão cuidadosa e sincera que parece que ele dá uma aula do que quis dizer. Para tornar tudo mais didático, O Clã dá todo o tom das situações versadas por Posada de maneira magistral. O que é de se esperar, visto que ele é composto por ninguém menos que os entrosados Gabriel Barbosa (bateria), Hugo Noguchi (baixo) e Gabriel Ventura (guitarra), parceiros em outros projetos como Ventre, SLVDR e Duda Brack.

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Posada abre o show agressivamente, na base da tijolada. Tijolo, talvez a canção mais conhecida do compositor, ganha uma voz de denúncia/protesto e dá o tom ao que está por vir: um show forte, com um instrumental que convida a todos para prestar atenção no que será dito. Daí para frente, a banda alternou as músicas do álbum “Posada” (2013) com novidades de um futuro novo álbum, e que promete ser tão fantástico quanto o primeiro, pelo que deu para perceber nas músicas tocadas. Músicas essas que animaram bastante o público, que não se contentou em ficar sentado nas poltronas do teatro e se levantou para dançar.

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O grande destaque da noite ficou por conta das talentosas participações especiais, com Duda Brack, que cantou Lamento, Caio Prado, que cantou Retalhos e Júlia Vargas, que cantou Pulmão. As cerejas do bolo ficaram por conta do bis com Tijolo, cantada por todos os convidados no palco, e o anúncio de que o novo álbum sai em breve, “No máximo em dois meses”. Vamos aguardar e torcer por vários shows, pois o que Posada diz e O Clã toca não pode ficar no ouvido de poucos. Porque não só “parece arte/revolução”, de fato é.

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Resenha: Def, Enema Noise e gorduratrans @AudioRebel

Por Guilherme Schneider | @Jedyte | Fotos Jefferson Cardoso

Sempre fico imaginando como a aclamada “cena de Seattle” do final da década de 80 cozinhou a revolução grunge – embaladinha no início dos 90. Quantas e quantas bandas não foram moldadas em clubes/garagens acanhados, refletindo a voz angustiada de uma geração. Caro leitor do RIFF, a reflexão pode parecer puramente avulsa para uma resenha, admito, mas confesso também que quando me deparo com tantas bandas promissoras penso em onde isso pode dar. A energia das mensagens de Def, Enema Noise e gorduratrans merece muita atenção. E isso foi o que pude presenciar no último domingo (19/6) na Audio Rebel, em Botafogo.

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Bichanos e o gigante Neon (cão-mascote da Rebel), de 12 anos, convivem em plena harmonia

Para quem ainda não conhece (!!), a Rebel é talvez um dos principais laboratório do underground carioca. Tudo pertinho do palco… um convite para uma boa troca de energia (e de palavras) entre banda e público. O evento foi organizado pela galera do selo Bichano Records, que desde 2014 traz gente muito boa pra tocar ali – e que em breve deve fechar data mensal na casa.

O primeiro show da noite foi do quarteto Def, que estreava na Audio Rebel justamente na véspera do lançamento do primeiro EP,  “Sobre os Prédios que Derrubei Tentando Salvar o Dia (Parte 1)”, que saiu na segunda-feira. Até pelo show ter sido antes da divulgação das músicas, pouco conhecia do som deles. Mas, o que dizer senão… amor a primeira vista?

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Def @2016

O shoegaze é literal, por parte da vocalista/guitarrista Deb F, que encara seu All Star em boa parte do show. Absolutamente apaixonante. Deb, integrava o Colombia Coffee junto com o batera-fera Dennis Santos – que divide os vocais com louvor em algumas músicas. A banda conta ainda com os talentos de Nathanne Rodrigues (baixo) e  do mais novo integrante, Matheus Tiengo (guitarra). O show foi curtinho. Teve cover de Superguidis, teve o novo EP, e teve gosto de quero mais. Destaque para as melodias melancólicas de Dissolvendo, Sobremesa e Nada.

Intervalo, uma cerveja a mais, e hora de Enema Noise, que veio de Brasília para uma turnê de três datas no Rio – também tocaram na Ilha do Governador e em Nova Iguaçu, apresentando o EP homônimo, lançado em janeiro. O post-hardcore brasiliense voltou ao Rio após dois anos de hiatus. Dessa vez com parte do público cantando algumas canções, e de resto uma contemplativa viagem sonora.

O som dos caras é repleto de energia e distorções. Novamente se viu o baterista (Daniel Freire) assumindo uma alternância com o vocalista/guitarrista (Rafael Lamim), como em um conflito de personalidades de um único eu-lírico das letras – ou será que embarquei demais na viagem? João Victor (baixo) e Murilo Barros (guitarra) completam o quarteto. Vale a pena conferir as porradas Azarnoazar, Contra e Da Metade pro Fim.

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Enema Noise @2016

A saideira do domingo foi com o duo gorduratrans, formado por Felipe Aguiar (guitarra/voz) e Luiz Marinho (bateria). Confesso, minha expectativa era alta depois de passar a semana toda com Vcnvqnd na cabeça. E a melhor expectativa foi correspondida (obrigado pela dica, Flavio Caveira – o aniversariante do domingão) .

Novamente uma dose shoegaze, e outra viagem sensorial. Se pudesse batizar humildemente um estilo, seria algo como “rock sensorial”. Sabe, quando você tá em um show, fecha os olhos, sente a presença dos que estão em volta (cada um no seu espacinho), mastiga os riffs, digere as batidas da bateria… o som do gorduratrans é um convite à esse transporte para uma outra dimensão.

A melancolia das melodias combina com o friozinho do úmido inverno carioca. Atiça mais essa pegada – ainda mais se for a noite de domingo. De fato é uma boa época para sair de casa e sentir. Só sei que a melodia de Vcnvqnd vai durar mais uma semana pelo menos na cabeça.

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