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Resenha: Luneta Mágica, Hunna e Montanee @Kult Kolector

Por Alan Bonner (texto e fotos) | @Bonnerzin 

Mais uma sexta-feira, mais uma noite de bandas independentes na Kult Kolector. A casa, localizada na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) e que tem movimentado a cena carioca, abriu suas portas para receber os manauaras da Luneta Mágica e os cariocas da Hunna e da Montanee no dia 17 de junho.

Luneta 3 @ Kult Kolector

A Luneta Mágica abriu a noite jogando nível lá em cima. Formada por Pablo Henrique (guitarra e vocal), Erick Omena (guitarra e vocal), Eron Oliveira (bateria) e Diego Gonçalves (baixo), a banda é uma deliciosa vitamina de música brasileira. Com influências que vão de Los Hermanos a Jorge Ben e de Mutantes a Clube da Esquina, a Luneta faz um ótimo rock alternativo/psicodélico que não se prende às influências e apresenta um som muito original. O repertório cheio de boas canções autorais e algumas versões bem interessantes de outras bandas, como Pink Floyd, fazem do show da Luneta um daqueles obrigatórios para quem curte a cena underground brasileira.

Hunna 2 @ Kult Kolector

A Hunna continuou a noite trazendo um pop rock que foge dos clichês e incorpora elementos de pop-punk e de post-hardcore, em um set com músicas autorais e alguns covers clássicos de Red Hot Chilli Peppers, Pearl Jam e Blur. O destaque vão para as baladas da banda, principalmente Não Há Nada. Uma boa dica para quem curte um som mais pop, mas não tão óbvio.

Case Montanee @ Kult

Enfrentando problemas com o som e na própria banda, a Montanee fechou a noite na raça e com um bom show. A banda subiu ao palco desfalcada de seu guitarrista Diogo Panico e com uma falha no microfone do vocalista Felipe Areias, mas assim mesmo não deixou a peteca cair e fez um rock alternativo autoral e muito original. Tão original que é difícil perceber quais as influências, mas Kurt Cobain e Dave Grohl apadrinhariam a banda sem pensar duas vezes. Apesar das excelentes canções próprias, o destaque ficou por conta dos surpreendentes covers de Drake e Lana Del Rey. Se a banda mandou bem assim desfalcada, dá pra se esperar um show incrível com ela completa. Fiquem de olho na agenda do Canal RIFF para não perder os próximos shows da banda e também na Hunna. E ficamos torcendo para que o retorno da Luneta ao Rio não demore muito.

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Resenha: Plutão Já Foi Planeta, Radioativa e Bordô @Teatro Odisseia

Por Alan Bonner (texto e fotos) | @Bonnerzin e @GustavoChagas

O melhor jeito de se surpreender com algo é quando, mesmo existindo uma expectativa boa no entorno da coisa, ela sai ainda melhor do que o esperado. É bem assim que pode ser definida a noite de quinta-feira (16/6), quando Plutão Já Foi Planeta, Radioativa e Bordô fizeram ótimos shows no Teatro Odisseia (Rio de Janeiro) e surpreenderam até aqueles que já conheciam seus trabalhos.

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Os cariocas da Bordô abriram a noite com um set curto, mas suficiente para mostrar a proposta da banda. Fazendo um rock ora dançante, ora mais introspectivo, Rafael Lourenço (vocal, guitarra e teclado), Daniel Schettini (guitarra), Marcelo Santana (bateria) e Rodrigo Pereira (baixo) trouxeram à tona aquela atmosfera de festa indie habitual do Odisseia durante pouco mais de meia hora e botaram o público para dançar. Uma banda para se ficar de olho, principalmente para quem curte um som na linha de Panic! At the Disco, Franz Ferdinand e Arctic Monkeys.

Radioativa @ Odisseia

A também carioca Radioativa subiu ao palco logo após, e as comparações com os americanos da Paramore foram inevitáveis, pela estética da banda, pela vocalista e pelas primeiras notas tocadas. Porém, as semelhanças ficaram nas primeiras impressões. Ana Marques (vocal), Felipe Pessanha (guitarra) Fabricio Oliveira (guitarra), Denny Manstrange (baixo) e Rodrigo Aranha (bateria) fazem um som com elementos diferentes da banda de Hayley Williams. A banda apresentou no seu set de cerca de 50 minutos um pop-punk com uma boa dose de peso e distorção, com influências de post-hardcore e real emo, além de um vocal potente de Ana. A dupla de guitarras também se destaca, com ótimos riffs e uma pegada forte, raramente vista em músicos do estilo. Merece a atenção dos fãs de Yellowcard, New Found Glory e do já citado Paramore.

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Para fechar a noite de boas surpresas com chave de ouro, a Plutão Já Foi Planeta, finalista da edição 2016 do programa Superstar, ganhou o palco do Odisseia com muito carisma e boa música. Quem vê a banda potiguar na TV ou ouve o EP “Daqui Pra Lá” e se encanta precisa urgentemente ir a um show deles. É ainda melhor! Os versáteis Natália Noronha (voz, baixo, sintetizador), Sapulha Campos (voz, guitarra, ukulele, escaleta), Gustavo Arruda (voz, guitarra, baixo), Vitória de Santi (baixo, sintetizador) e Khalil Oliveira (bateria) fazem um indie pop com muita originalidade, ótimos arranjos e uma entrega no palco que pouco se vê no mainstream atual. A banda é muito bem ensaiada e pareceu em casa no Rio de Janeiro, mesmo sendo a primeira vez em terras fluminenses. Até o público presente no show impressionou. A galera cantou todas as letras e brincou com os integrantes da banda entre as músicas, tornando a noite ainda mais agradável. E a maior e melhor surpresa de todas ficou para o final: a Plutão chamou os interagentes da OutroEu e da Playmobille, duas bandas que também participam do Superstar (a OutroEu também está na final) para cantar com eles no palco a última música do set, Você Não é Mais Planeta, e transformou o show numa festa. Fiquemos ligados na final do Superstar, pois a Plutão fez um show de campeã.

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Resenha: Confeitaria e SLVDR @Escritório Transfusão Noise Records

Por Alan Bonner | @Bonnerzin

Noites frias no Rio de Janeiro são bastante raras. Como em qualquer outro lugar, elas pedem um local aquecido, aconchegante e com boa música. Parece que tudo conspirou para que esse clima fosse concebido pelo Escritório da Transfusão Noise Records, que abriu suas portas na noite da última quinta-feira (9 de junho) para os shows dos mineiros da Confeitaria e dos cariocas da SLVDR.

O local, que mais parece uma sala de estar, favoreceu bastante para dar uma atmosfera intimista à noite e combinou bastante com a proposta das bandas. A Confeitaria abriu os trabalhos, apresentando seu álbum “Enero” na íntegra. O registro do duo formado por Lucas Mortimer (bateria e efeitos) e Gabriel Murilo (guitarra e baixo) se mostrou bastante sólido ao vivo, mesmo com limitações técnicas que ocorreram durante a apresentação (como problemas na bateria). O que se ouviu foi um post-rock com um toque experimental de muito bom gosto e que reflete bastante a atmosfera das gélidas montanhas da Patagônia, onde o álbum foi gravado.

Conversando com Mortimer, pude ouvir boas novidades em relação a cena underground em Belo Horizonte, principalmente sobre os artistas do “rock triste”. Também conhecido como Emo Tupiniquim e capitaneado por algumas figurinhas carimbadas como Lupe de Lupe e caras novas como Jonathan Tadeu e El Toro Fuerte, o movimento da “Geração Perdida” parece estar fervilhando, e promete transbordar no Rio de Janeiro em breve. Muitas bandas de BH irão ou voltarão a se apresentar no Rio nos próximos meses, inclusive a própria Confeitaria. A dica para quem perdeu o show, portanto, é ficar ligado na agenda do Canal RIFF e comparecer ao próximo, pois é o tipo de experiência que só presenciando para sentir de fato do que se trata.

Para esquentar ainda mais a noite, a SLVDR (“Salvador” sem as vogais, para os desavisados) assumiu os instrumentos e mandou uma brasa atrás da outra. O math rock potente conduzido por Bruno Flores (guitarra), Hugo Noguchi (baixo) e Gabriel Barbosa (bateria) fez até o mais friorento dos espectadores se esquentar. Apresentando músicas de todas as fases do projeto, o trio também anunciou que seu primeiro álbum, intitulado “Presença” está para sair em breve. Vamos aguardar! O grito de “caraca!” de uma pessoa da plateia ao final da faixa “Bouken” (que estará no novo trabalho) definiu bem o que foi a apresentação. A sensação que ficou no final do show e depois de tamanha fritação musical era de orelha, cabeça e corpo quentes. Perfeito para dormir aquecido numa noite fria.

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Resenha: A maturidade de Hover, Avec Silenzi e Menores Atos na Kult Kolector

Por Alan Bonner | @Bonnerzin

O cenário independente de música costuma reunir bandas com propostas nem sempre parecidas, mas que, por fazerem parte da cena em uma determinada época, acabam tocando nos mesmos eventos, tornando a coisa bastante interessante para quem gosta de descobrir novos artistas. A Kult Kolector, localizada na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) e que costuma abrir espaço para diversas bandas alternativas em seu palco proporcionou mais uma dessas noites na sexta-feira (03/06/2016), onde o destaque foi justamente a diversidade de sons, e, claro, a qualidade das bandas.

A casa recebeu o show de lançamento do álbum “Avec III”, do trio carioca Avec Silenzi. O line up ainda contou com os petropolitanos da Hover em mais uma apresentação da turnê do recém-lançado “Never Trust The Weather” e com os também cariocas da menores atos em mais um show da turnê do aclamado “Animalia”.

Hover show @Kult Kolector 4
Hover

Antes de mais nada, é preciso elogiar duas coisas. Em primeiro lugar, a estrutura da casa. Por mais que fique devendo um pouco em relação à acomodação do público (por exemplo, grandes filas se formaram na porta do banheiro, pois havia apenas um para cada sexo disponível em um evento que recebeu cerca de cem pessoas), a estrutura de som e a acústica do local são bem acima da média em relação a outros picos.

O segundo ponto a se destacar é a maturidade das bandas. O cenário independente deixou de ser sinônimo de algo amador e sem qualidade faz tempo, e quem ainda tem essa concepção certamente não está acompanhando a cena com a atenção que ela merece. E o evento da Kult foi só mais uma prova disso. Os músicos tem uma qualidade absurda e não devem a nada a nenhuma banda de renome. Os álbuns tem uma produção excelente e a execução ao vivo, que alguns artistas já consagrados ficam devendo em qualidade, chega a ser melhor ainda que a experiência em estúdio. Os materiais de promoção e divulgação dos discos e dos shows deixam muita peça publicitária de horário nobre no chinelo. Tocar cover? Pra que? É tudo autoral e muito bem feito! Enfim, é possível se alongar aos montes aqui para falar sobre a qualidade das bandas que se apresentaram e da cena como um todo. Esse parágrafo é justamente para abrir o olho de quem ainda não está atento à safra maravilhosa do rock nacional que ganhou notoriedade nos últimos três anos e que está ganhando corpo rumo aos grandes palcos (vide Scalene, Far From Alaska, Suricato…).

Avec Silenzi formação trocada @Kult Kolector 1
Avec Silenzi

Voltando ao evento, quem abriu a noite foi a Hover, que criou um clima de boas vindas com There’s No Vampire in Antarctica, at Least for 6 Months e logo a seguir tratou de botar a casa abaixo com Hawkeyes, ambas do “Never Trust the Weather”. Ao longo do set, impressionou como a banda trouxe ainda mais peso às músicas em relação ao que foi feito no estúdio, principalmente as do EP de estreia da banda, “Open Road”, que tem uma pegada muito mais pop do que “NTTW”. A banda manteve essa marca ao longo do set, mesmo em músicas mais elaboradas como Teeth e I’m Homesick. Outra coisa que chamou a atenção foi como as três (!) guitarras da banda não se “atropelam” e soam muito bem. Isso geralmente é um desafio grande para as bandas durante suas performances, mas não pareceu um problema em momento nenhum para os ótimos Saulo von Seehausen, Felipe Duriez e Lucas Lisboa. A cozinha da banda, formada por Pedro Fernandes (baixo) e Álvaro Cardozo (bateria) também não faz por menos e mantém intenso o andamento das músicas. Enfim, um show bem porrada, pra bater cabeça e tudo.

menores atos @Kult Kolector 1
menores atos

Após um pequeno percalço com o acerto do som, a Avec Silenzi subiu ao palco para apresentar as músicas do seu novo álbum, além de outras preciosidades dos outros dois discos. E logo de cara foi possível perceber a experiência transcendental que seriam aqueles 50 minutos de set. Nos primeiros acordes e efeitos sonoros, a banda convida o público para uma jornada que certamente não é no plano em que vivemos. A interessante combinação de elementos de trip-hop, post-rock, música eletrônica, efeitos sonoros psicodélicos e uma pitadinha de death metal feita por Duda Souza (bateria), Rafael Ferreira (baixo) e Renan Vasconcelos (guitarra e efeitos) faz até aquele que não está prestando muita atenção no show entrar na viajar junto com os caras. E que músicos fantásticos! Quando você acha que já foi surpreendido ao máximo com toda a técnica do trio, Renan e Rafael trocam os instrumentos entre si para tocar a última música. Sensacional! A banda é ótima e certamente o novo álbum vai repercutir bastante.

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Para fechar a noite com chave de ouro, a menores atos ganhou o palco para fazer um set curto, mas pulsante e com uma participação incrível do público. A plateia praticamente dividiu os vocais com Cyro Sampaio e sua guitarra, o aniversariante Celso Lehnemann e seu baixo e Felipe Fiorini e sua bateria, substituindo o “titular” do posto Ricardo Mello, que passa por problemas de saúde. A banda parece estar se encontrando com o novo membro, e os erros de execução presentes na última apresentação quase não ocorreram (só um pequeno deslize no início de “Oceano”). No show, o que vimos foi o que tem se visto em todas as apresentações da banda. Uma linda introdução, precedendo “Animalia”, e depois o desfile de letras fortes, acordes muito criativos e um ritmo forte e pulsante. E show da menores atos não tem muito o que dizer, é só sentir. É “preparar, apontar, puxar o gatilho” da garganta e cantar da primeira até a última música. E sair rouco, mas de alma lavada.

Conheça mais da menores atos aqui no RIFF:

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Resenha: Maio, chuvoso, hard e power metal | SOTO e The Winery Dogs

Por Raphael Simons (texto e fotos) I @raphasimons

Terça-feira também é dia de rockeiro sair cansado do trabalho e ir para o Imperator, no Méier, descansar a mente com os shows das bandas SOTO e The Winery Dogs.

Com o público ainda chegando ao local, a banda de abertura Soto iniciou os seus trabalhos. A formação do grupo conta com a participação de dois brasileiros, o baterista Edu Carminato e o guitarrista/vocalista Luiz “BJ” Paulo. Completam o baixista David Z e o guitarrista Jorge Salan, liderados por Jeff Scott Soto.

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A apresentação começou com uma amostra das novas músicas dos álbuns de 2015 e 2016 e foi aquecendo o palco. O público mais cascudo e hard rock acompanhou em coro os vocais de Jeff praticamente durante todo o show e principalmente nas canções Tears in the Sky e I’ll be Waiting da antiga Talisman.

Após o solo de baixo com Billie Jean – Michael Jackson, veio o momento das jams. Passando por Yngwie Malmsteen, Twisted Sister, Kiss e Journey – com BJ impecável nos vocais de Don’t Stop Believin. Após um breve silêncio a banda executou o início da moderna e clássica Stand Up and Shout, do filme Rock Star. E com Community Property do Steel Panther, Soto finalizou sua apresentação no Rio de forma solta e agradável.

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Com as mudanças de palco sendo realizadas o público aguardava ansioso conversando e bebendo aquela cerveja gelada. As luzes se apagam, a música ambiente se encerra e Richie Kotzen, Billy Sheehan e Mr Mike Portnoy entram no palco arrebentando com Oblivion, a primeira faixa do novo álbum do The Winery Dogs. Seguida de Captain Love e We are One, uma melodia magnífica. O power trio foi intercalando canções dos dois álbuns de estúdio, entre hard e baladas.

Richie cantou absurdamente com performances na guitarra, violão e teclado, enquanto o público se divertia com as peripécias de Billy e Mike no decorrer do show. O público foi privilegiado pela execução de You Can’t Save Me, que não era cantada por Richie há anos.  Na maior parte do tempo a plateia ficou estagnada vislumbrando a execução perfeita dos três no palco. Mas como nem tudo é perfeito, Portnoy sentiu-se incomodado com algumas pessoas que estavam fotografando ou filmando com celulares levantados e atrapalhando a visão dos demais, em vez de apreciarem o espetáculo. Dica desse redator: Galera não é proibido o uso do celular, é de boa, mas não o tempo todo. Valeu!

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A apresentação estava chegando no auge do virtuosismo depois de uma sequência animal de músicas. No solo de bateria, como de habitual, Portnoy baqueteou em todos os lugares (todos mesmo!!!), o chão do palco, o banco de Richie e até nas cordas do baixo de Billy. The OtherSide demonstra que muita coisa do Mr. Big vem na bagagem, principalmente na melodia do refrão com Richie solando muito, mas muito mesmo. Billy foi deixado no palco para um solo de baixo indescritível: só os presentes saberão a perfeita harmonia entre o músico e o seu instrumento. Ghost Town reuniu os três novamente e o refrão de I’m No Angel, bem, foi berrado pelo público.

Após Elevate as luzes se apagaram e os músicos deixaram o palco. O público ainda em êxtase começou a pedir a volta dos músicos ao palco, pois o show não poderia terminar daquela maneira. Mas para quem já pertenceu as bandas: Mr. Big, Talas, Dream Theater, Poison, AdrenalineMob e tantos outros projetos, já realizou milhares de shows e tem tantos anos de estrada, sabe muito bem quando as luzes devem ser acesas.

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E assim foi feito, as luzes se acenderam e o retorno foi com a balada Regret, para embalar todos naquela noite. E que noite, uma noite inesquecível. Desire foi cantada por todos os presentes, fazendo com que Richie desse um break cantado “desire” em tons diferenciados, pedindo o retorno do público no mesmo tom. Com despedidas e agradecimentos se encerrou essa noite hard rock e power metal no Rio. Um show que esquentou essa noite fria de maio.

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SOTO Setlist Imperator, Rio de Janeiro, Brazil, Divak South America Tour 2016

The Winery Dogs Setlist Imperator, Rio de Janeiro, Brazil 2016, Double Down World Tour

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Resenha: Lucy Rose e José González, de coração aberto no Rio

Por Thais Rodrigues (fotos e texto) | @thwashere

A efemeridade de momentos no cotidiano não diminui o valor único e simbólico dos mesmos, pelo contrário: torna tudo isso, mesmo que esse tudo não seja muito e, mesmo que seja impossível medir, contar ou até capaz de ser expresso, precioso e eterno.

A última sexta-feira (06/05) foi memorável e reforçou aquele desejo sincero que se esconde em inquietações e dúvidas que, por muitas vezes e aparentemente, não tem explicação. O Circo Voador transformou-se em casa, abrigo, sala de estar e até desculpa para não passar a noite em casa.

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Queremos e Heineken abriram o primeiro final de semana de Maio com a visita harmoniosa de Lucy Rose e José González. A recepção acolhedora antes de ambas às apresentações foi como estar visitando um velho amigo, depois de algumas semanas que pareciam anos. Com um quê de “fica à vontade enquanto arrumo umas coisas aqui e ali”, mesmo em grupos, fomos deixados a sós com nossos pensamentos mais particulares, embalados por uma trilha sonora folk especialmente feita sob medida.

Como quem não quer nada e de repente, Lucy Rose caminhou pelo palco até chegar o microfone. Pegou o violão e sem ser anunciada, propõe-se a fazer sala para todos enquanto José, o anfitrião da noite, não recebia os empolgados. Foi como estar em casa! Ou melhor: saber o que é lar e como além de lugares, um lar, o meu ou o seu, pode ser alguém.

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Com uma voz doce, capaz de acalmar ao mesmo tempo em que pudesse fazer alguém chorar, Lucy nos recebeu com a humildade quase extinta em alguns artistas que com o passar do tempo, esquecem-se da importância da arte e dão poder e voz a imagens projetadas, que são falhas. A voz que ecoou naquela noite, no meio do silêncio, destacou-se pela sinceridade em composições que falam sobre amor, início, meio e fim, deixando clara a diferença entre cantores e performers.

Entre elogios isolados, incapazes de controlar, e olhares e lentes, um sorriso tímido. Incrédula, teve que parar e refletir sobre o que acontecia a sua volta quando na verdade, o que acontecia com todos e graças a ela, era mais importante e inédito. “Nós te amamos, Lucy” não foi o suficiente para agradecer a iniciativa de levar música, algo tão livre, sem custo para quem aprecia, de coração aberto para experiência que vão além de crítica e dislikes.

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A promessa antes da partida foi a de voltar. Dessa vez, com nossas músicas favoritas e ao som de seu piano, acompanhada pela sua banda e assim, Lucy Rose se despediu, sentindo-se abraçada e agradecida pela magia de estar no Brasil, sonho de muitos artistas independentes e que às vezes, não sabem o quanto são esperados por todos.

Uma pausa e mais instrumentos começam a tomar o espaço que Lucy não foi capaz de preencher. Mais alguns minutos e piscar de olhos, e já era impossível se mover na plateia. Quase lotado, o Circo voador abria espaço unicamente para José González que foi o ingrediente para tornar a experiência de show mais completa e diversificada.

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O ritmo instigante presente em algumas das canções presentes no setlist de José provocou passos e movimentos livres de regras que pudessem coreografar o quanto era contagiante estar ali, e acabou por empolgar inclusive aqueles que só queriam passar a noite fora.

O som rico em referências suecas e argentinas também tirou os mais concentrados da zona de conforto e fez jus ao fato de ter sido gravado em casa, que não diminui em nada o conceito sobre a apresentação impecável e consistente que resultou não só em ótimos registros, mas também em um desejo incontrolável por repeat na vida real.

O conjunto de transformações notáveis após as duas apresentações ficou muito em evidência, assim como a ciência de que o acesso à cultura é para aqueles que desejam ser impactados por qualquer que seja a manifestação artística independente de cor, nacionalidade ou propósito que a mesma tenha. Lucy e José, ambos muito receptivos antes e após o evento, não foram descobertos, e só quem esteve presente mais de alma que de corpo, pode entender que a descoberta pessoal, singular e alcançada por poucos, foi o cartão de visita e a identidade do show.

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Resenha: City and Colour e as parcerias que dão o que falar

Por Thais Rodrigues | @thwashere | Fotos @gustavochagas

Além de ter sido motivo para muitos brindes, o segundo ano de parceria entre Queremos e Heineken deu o que falar, e pelo visto, tanto se falou que Dallas Green e seus amigos voltaram para colorir e movimentar o Rio de Janeiro com o projeto City and Colour na turnê “If I Should Go Before You”.

O Circo Voador inundou com muitos empolgados e seguidores da banda na última sexta-feira (29/04). Nem a chuva ou a frente fria recém-chegada foram o suficiente para impedir que inúmeros nomes citados na lista se privassem de ter mais uma chance de estarem compartilhando experiências e angústias, em busca da cura da alma por meio da música. E no final das contas, o clima colaborou para que todos ficassem mais juntinhos e combinasse com as faíscas dos apaixonados que aguardavam entre beijos e abraços, o início do show.

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Pelo segundo ano seguido, Queremos e Heineken trouxeram o City & Colour ao Brasil

Os primeiros acordes emocionantes, intensos e cautelosos de Woman marcaram o início da viagem mágica que estávamos prestes a embarcar. A voz impecável de Dallas e a sintonia da banda que o acompanhou não só apenas no último álbum lançado, mas também no show do ano passado, se fazia presente mais uma vez, acabando de preencher, de forma bem discreta e introspectiva, qualquer vazio ou espaço para comparações com outras apresentações.

Com intervalos curtos entre uma música e outra e nada mais que “thank you”, a banda aparentemente com um pouco de pressa na execução e, ao mesmo tempo, preocupada em não perder o ritmo, deu continuidade com Northern Blues, Two Coins e If I Should Go Before You, envolvendo a plateia que não tinha muito tempo para refletir sobre as faixas tocadas.

O blues que faltava fez com que alguns pés se movimentassem e vozes emocionadas começassem a mostrar o motivo de terem ecoado tanto, ao som de Killing Time meio I Don’t Trust Myself (With Loving You), mas não durou por muito tempo. De repente, uma luz angelical iluminava apenas Dallas e era como se estivéssemos congelados. Não era o frio, e sim uma brisa absurda das memórias provocativas do passado pedindo licença, um minuto ou dois de nossa atenção, com direito a “deprê” e mais um pouco ao som – e que som – de Hello, I’m In Delaware.

Wasted Love veio em boa hora, agitando mais uma vez o público, dando-o poder de se mover e colocar alguma atitude em seus passos de dança com quê de rock’n’roll e também para fazer com que se lembrasse de decepções amorosas e o quanto as mesmas nos deixam intensos em qualquer emoção que tenhamos.

O momento mais marcante do show foi quando Lover Come Back saiu do palco e voou pelo Circo. Ouvir todas aquelas vozes e ver palmas de agradecimento foi melhor que qualquer solo que estivesse por vir, tirando sorrisos de Jack e Dante que até então, permaneciam sérios e centrados na execução de cada música.

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O público compareceu em bom número ao Circo Voador

Todos nós precisamos de um tempo com nossos próprios pensamentos, medos, inseguranças e frustrações. A banda deixou o palco e só Dallas voltou, chamando a atenção de pessoas com cartazes que estavam atrapalhando e para o motivo de não incluir algumas músicas que estavam sendo pedidas durante o show no setlist. Disse ainda que não se sentia mais tão confortável com algumas músicas e que preferia que fosse desse jeito e ponto final. Sem muitas palavras, continuou o show atravessando uma onda de letras profundas, agora com a plateia mais silenciosa, tocada, arrepiada e emocionada que antes.

Quando finalmente deixamos as tristezas pra lá e nos pegamos dançando The Girl, já era tarde demais e a união que resultou em um dos álbuns mais carregados de significado, bem ali na nossa frente, nos deixava sem grandes declarações. Dallas e friends deixaram o palco e a partida deles, talvez, tenha sido menos dolorosa dessa forma, com uma pitada de “até logo” pra não falar mais sobre “adeus” que suas músicas e assim, sem competições, a parceria entre público e banda, banda e Dallas, Queremos e Heineken soou verdadeiramente como música em nossos ouvidos que vale a pena estar no “repeat”.

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City and Colour Setlist Circo Voador, Rio de Janeiro, Brazil 2016

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Resenha: Dobradinha entre amigos no show da banda Cimorelli e Jacob Whitesides

Por Thais Rodrigues | @thwashere

A descoberta de um talento na família, alguém com um dom com quê de estrelato, já é motivo para reunir a família e amigos em casa ou até no quintal para compartilhar a felicidade de ter a música cada vez mais presente na rotina. Mas, quando seis irmãs têm talento e a iniciativa de homenagear seus ídolos fazendo covers e compondo suas próprias músicas, não há melhor maneira de comemorar que vindo ao Brasil para um show.

A banda Cimorelli, composta de seis irmãs americanas, Christina, Katherine, Lisa, Amy, Dani e Lauren, fez seu primeiro show no Rio de Janeiro no último domingo (10/04) no Circo Voador, na Lapa, pelo Queremos. E, mesmo com bastante espaço no local do show, fãs adolescentes ficaram bem juntinhos perto do palco, vibrando com qualquer movimentação que indicasse o início da apresentação.

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Antes das meninas subirem ao palco, mensagens inspiradoras gravadas das próprias integrantes emocionavam e deixavam a plateia cada vez mais ansiosa e foi aí que sem avisar ou ser anunciada, Dani entrou no palco cantando e logo em seguida, as outras já estavam pulando no palco causando histeria.

Apesar do entusiasmo dos empolgados aglomerados, tentando conseguir um aperto de mão ou snap descente que fosse, o clima ao redor do Circo Voador era de calmaria. Muitos responsáveis dos empolgados se animaram enquanto esperavam o término da apresentação e deu até pra ver pai achando tudo muito divertido ao se levantar pra bater uma foto, com certeza pra mandar pra familiares em alguma ocasião.

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Enquanto assistíamos ao show, um amigo e eu compartilhávamos de lembranças de alguns anos atrás e concordamos que Cimorelli dava o toque final a toda a nostalgia adolescente que pairava por ali, com direito a relato sobre corações partidos, pessoas ao redor nos desmotivando e muito mais problemas que só quem passou por essa fase, sabe como é. Deu até pra ver Amy se emocionar em algumas faixas.

Com direito a Sorry do Justin Bieber e Skyscraper de Demi Lovato, as irmãs tomaram conta do palco. Em alguns momentos do show, dava pra perceber que não pareciam estar comprometidas com seriedade irritante e chata ao se apresentarem e era como se estivessem em uma festa do pijama, dançando em frente ao espelho, contando segredos sobre crushes e pedindo conselhos. Christina foi praticamente a porta voz do grupo, apesar de um olhar ser o bastante pra gente saber que muitas das canções do novo álbum que tivemos o orgulho de ouvir ao vivo em primeira mão, tinham algo de muito sincero e motivacional.

Com looks bastante individuais e coreografias Spice Girls inspired, não teve como ficar sentado por muito tempo. Levantamos e fizemos coreografias desajeitadas também e além da energia, ficamos para mais um show com a mensagem de que a vida é difícil, mas se quisermos muito algo, devemos lutar por isso e não deixar qualquer mensagem negativa nos abalar. E assim, a reunião entre amigas e irmãs teve seu fim e a pausa para o próximo show foi o suficiente pra recarregar energias, conseguir selfies, autógrafos e depoimentos dos fãs mais apaixonados e dedicado que a Lapa já viu.

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Sai o grupo de amigas que todo mundo queria ter, entra aquele típico garoto fofo, bonito e que mais que ter a sorte de ser a namorada dele, privilégio seria tê-lo como melhor amigo, daquele que nos entende e é capaz de nos dar conselhos e colo se precisarmos. Jacob Whitesides invadiu o palco do Circo com direito a frio na barriga e declaração de que era o melhor show que o mesmo já tinha feito até então.

Jacob conquistou a todos sem muitas performances, só voz, banco e violão em algumas partes do show. Com sua própria versão de When We Were Young de Adele e Love Yourself de Justin Bieber, levou o público ao delírio e elogiou todas as vozes e até deixou escapar que todos juntos, cantavam melhor que ele.

Com tanta calmaria, seguida de hits de autoria própria, “o melhor amigo que todas as meninas gostariam de ter” surpreendeu a todos quando agarrou o celular de uma das pessoas da plateia. Aparentemente, a pessoa estava fazendo vídeo conferência com outra que não pode comparecer ao show e ele conversou por um tempo com ela, enquanto do outro lado, ela se emocionava vendo o seu ídolo tão perto, mas de tão longe.

Ao término do show, Jacob Whitesides e Cimorelli subiram ao palco juntos para agradecer a recepção calorosa de todos e que apesar da paixão exagerada por parte dos fãs, todos são muito amigos, diminuindo a distância entre astro e seguidor e aumentando a troca de experiência em nome da amizade, afinal, tudo entre amigos é só amor.

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Resenha Coldplay: A head full of dreams, a sky full of stars e um Maracanã full of lights

Por Lorena Nascimento | @lorenallori | Fotos Gustavo Chagas

Era setembro de 2003, aquela banda inglesa de rock alternativo, que tocava diariamente no “repeat” do meu mp3 player, viria pela primeira vez ao Brasil; eu precisava ver e ouvir de perto aquele quarteto.

Que eu me lembre, foi em um dia de semana, bem à noite. Eu tinha 15 anos, aula no dia seguinte e nenhum dinheiro. Os meus amigos também. Como fazer pra arrumar ingresso, companhia e alguém pra me levar até o ATL Hall?

Chegou o dia e nada de ingresso, companhia ou carona. 19 hrs, 20 hrs, 21 hrs… Coldplay tocando no mp3 player… “Pai, o show vai começar, acho que já ate começou! Vamos lá comigo, você não pode me levar não? Eu fico lá na porta… quem sabe não consigo entrar?! *cara de cachorro abandonado”

Funcionou! (OBRIGADA, PAI!!)

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Eu não sei como, mas, quando vi, já estava lá dentro, encantada e emocionada com os lasers verdes de Clocks, e puxando assunto com algum  desconhecido que tava do meu lado, que também chorou e cantou comigo quando tocou In My Place.

A Rush Of Blood to the Head Tour foi emocionante, e também intimista. Com um público de aproximadamente 8000 pessoas, Chris, Guy, Jonny e Will estavam ainda tímidos e monocromáticos, e os únicos (porém muito marcantes) efeitos luminosos desse show foram os lasers.

Teve Coldplay em 2007 em São Paulo, não teve eu… Teve Coldplay em 2010 na Apoteose, não teve eu… Teve Coldplay em 2011 no Rock in Rio, teve eu, ridícula, assistindo de casa, emocionada e tirando fotos da TV.

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Abril de 2016, aquela banda inglesa de rock alternativo, que tocava diariamente no “repeat” do meu mp3 player, tinha mudado, crescido, se transformado (assim como eu), e viria pela quinta vez ao Brasil; eu precisava ver e ouvir de perto aquele quarteto.

Quando recebi a confirmação do credenciamento pro show do Coldplay no Maracanã, comecei a ler e a pesquisar sobre os outros shows da turnê A Head Full of Dreams. Confesso que me intriguei quando li “Coldplay mostra pop sem brilho e rock frouxo em show de pirotecnia”, uma resenha onde a apresentação da banda em São Paulo é comparada à uma micareta, e o clima, ao de uma aula de ginástica (?).

Cheguei no show curiosa e ansiosa. De cara rolou uma chuva de papel, em A Head Full of Dreams, música que abriu a noite. As pulseiras recebidas pelo público, que acendiam e mudavam de cor de acordo com as músicas, fizeram da plateia um show à parte.

Em Yellow, segunda música da noite, o carismático Chris Martin solta um “Boa noite, pessoal! Que alegria estar no Rio, Cidade Maravilhosa!”, em alto e bom portugês. Foi bom, né?! =p

Logo ao final da terceira música, Every Teardrop is a Waterfall, tem mais chuva de papel, e até fogos de artifício. O espetáculo segue com The Scientist, Birds e Paradise.

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A banda agora segue pela passarela que invade a pista, e toca Everglow, Princess of China (com direito a Rihanna no telão), e Magic.

De volta ao palco principal, chega a hora mais nostálgica pra mim: Clocks levanta ainda mais o público, que chega ao ápice do brilho (será?) quando começam a tocar Charlie Brown, logo em seguida.

A partir daí, meus amigos, tenho que confessar que não aguentei: larguei meu lápis, celular e meu bloquinho, e “fui pra galera” rs, me joguei!  Ainda bem que o Gustavo pegou o setlist e o Guilherme vai colocar aqui pra vocês, porque se dependesse das minhas anotações, o show teria acabado aí! ;]

Conclusão…

A banda está mais pop? Está.

Minhas músicas preferidas continuam sendo os hits de 2003?

Continuam.

Isso faz do show algo ruim? Não, Brasil!

Foi um espetáculo, em um dos lugares preferidos do carioca. Sob um céu estrelado, e uma chuva de confetes, balões, fogos e luzes, o  Maracanã vibrou, coloriu, cantou e se emocionou durante as 2 horas de show.

Com certeza o Coldplay tornou a noite de muitos, uma noite inesquecível.

setlist

Coldplay Setlist Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, Brazil 2016, A Head Full of Dreams Tour

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Resenha

RESENHA: Rolling Stones, a esperança da humanidade

Por Guilherme Schneider | @jedyte

Ontem foi (literalmente) o maior dia do ano. Dia de show dos Rolling Stones no Brasil, na abertura da Olé Tour no Rio de Janeiro. Um dia tão mágico, que permitiu até mesmo o tempo voltar – com o fim do horário de verão, é bem verdade. Mas que parecia uma dádiva dos deuses do rock’n’roll, ah, parecia sim. Nada menos que 66 mil pessoas lotaram o Maracanã na noite de sábado (20).

Essa foi apenas a quarta vez dos Stones no Brasil. A banda veio para cá pela primeira vez em 1995, durante a Voodoo Lounge Tour. Três noites em São Paulo e duas no Rio. Em 1998 a Bridges To Babylon Tour passou apenas uma noite em cada capital.

A última vez em solo brazuca completou na última quinta-feira uma década. O lendário show gratuito para 1,5 milhão de pessoas na Praia de Copacabana foi no dia 18 de fevereiro de 2006, durante a A Bigger Bang Tour. Pra mim, que estive dez anos atrás, o show de ontem foi muito melhor, com mais estrutura, som e hits.

Brazilian fans attend to a concert of the rock band The Rolling Stones during their Ole tour at Maracana stadium in Rio de Janeiro, Brazil, on February 20, 2016. AFP PHOTO/VANDERLEI ALMEIDA / AFP / VANDERLEI ALMEIDA (Photo credit should read VANDERLEI ALMEIDA/AFP/Getty Images)

Última vez do bivôs?

A cada show dos Rolling Stones alguém levanta a questão: “Seria esta a última vez deles aqui no Brasil?”. Não é pra menos.

Sem dúvidas os Stones são a banda de maior sucesso na história, e que continua com sua formação mais tradicional. Na ativa desde julho de 1962 (há 53 anos), os Stones ainda mostram nos palco o tesão pela música dos novatos.

E, a cada rebolada do setentão Mick Jagger no palco a fé em um futuro melhor aumentava.

Envelhecer assusta muita gente. Ainda mais fãs do rock’n’roll das antigas, que ainda estão sob os lutos recentes de nomes com David Bowie e Lemmy Kilmister.

Em cinco meses Mick Jagger completará 73 anos de idade. O inglês tem tudo para superar com louvor os 78,2 anos de expectativa de vida de seus conterrâneos. Se der tudo certo, seus próximos aniversários serão comemorados no palco.

Quem viu o show da atual turnê percebe que a banda continua com muito gás. A impressão que dá é que não buscarão um “momento ideal para parar”, e sim que tocarão até morrer. No duro.

Esse talvez seja o grande sonho da humanidade: envelhecer bem, com pique, saúde, criatividade, vigor e prosperidade. Ver Jagger, Richards, Wood e Watts juntos renova essa esperança. É um olhar para o futuro ideal projetado de cada um – e não um olhar apenas para o passado.

Difícil imaginar como aquele rock star que se move com suavidade e força já é um bisavô. Jagger tem sete filhos (incluindo o brasileiro Lucas, filho da apresentadora Luciana Gimenez), cinco netos e uma bisneta.

O show – e que show!

Ah, então, vamos ao show. O Maracanã sofreu com os temporais que tem transbordado as tardes de verão no Rio. Choveu muito mesmo durante as bandas de abertura, Dr. Pheabes e Ultraje a Rigor. Prêmio de consolação de quem (assim como eu) ficou na arquibancada, de ingresso mais barato do que as pistas. Ingressos que custavam até R$ 900 (ou R$ 990 com a cruel taxa de “conveniência”). Diante deste cenário não era de se estranhar que a cerveja custasse R$ 10 – ao menos vinha acompanhada de uma estiloso copo-souvenir.

A pontualidade britânica foi afetada pelo tal temporal: foram 20 minutos de atraso, até que o telão a direita do palco pegasse no tranco. Aliás, diga-se passagem, que belos telões! Os três ajudaram um bocado quem estava mais longe do palco.

Rolling Stones Rio de Janeiro 2016 Olé Tour Maracanã

A banda entrou no palco pra mostrar todo o seu poderio. A abertura perfeita de qualquer show: Start Me Up, levando o público de todas as idades ao delírio, logo emendada com a deliciosa It’s Only Rock’n’Roll (But I Like It). Que hino!

O show seguiu com um comunicativo Mick Jagger, falando em bom português. Foram de Tumbling Dice e Out of Control, antes da “música da enquete”. Medida muito legal da banda, que durante essa turnê abre uma votação para o público escolher uma música. Entre as quatro opções apresentadas na enquete carioca, o cover de Like a Rolling Stone (do Bob Dylan) foi a mais votada entre Live With Me,  All Down The Line e Shattered – ainda bem!

Doom and Gloom, a música mais recente do repertório (de 2012), antecedeu a balada Angie – tão relembrada após a morte de Bowie. E que boa surpresa, já que foi tocada em raros shows dessa turnê. A Olé Tour tem registrado sets que variam entre 18 e 19 músicas (como foi no Rio – com quase 2 horas e 20 minutos de show).

Particularmente o grande momento foi a sequência de Paint It Black e Honky Tonk Women. Fico imaginando como peso dos acordes excêntricos de Paint It Black devem ter influenciados uma penca de bandas de metal. Ao final de Honky Tonk Women Jagger apresentou a banda toda, e os fã puderem agradecer com gritos e aplausos os geniais Charlie Watts, Ron Wood e Keith Richards pelos serviços prestados.

Richards, um deus da guitarra, ficou no palco arranhando gírias e palavrões em português (bem, não tão surreais como o “calor pra caralho” e “tá favorável” desferidos pela língua feroz de Jagger) antes de seu momento no vocal, com You Got the Silver e Before They Make Me Run. O clima de blues continuou com o retorno de Jagger ao palco, em Midnight Rambler.

Daí pra frente foi só hits do tamanho de estádios de futebol. Miss You, Gimme Shelter, Brown Sugar, Sympathy for the Devil e Jumpin’ Jack Flash. Não tem nem muito o que dizer dessa sequência absurdamente genial. O supra sumo do rock clássico tá aí.

Que noite no Maracanã! #RollingStones de volta ao Rio de Janeiro depois de uma década.

Um vídeo publicado por Canal Riff (@canalriff) em Fev 20, 2016 às 7:36 PST

 

Destaque merecido para a banda de apoio e a dupla de backing vocals. Bernard Fowler e Sasha Allen, que brilhou do The Voice norte-americano de dois anos atrás, mandou muito bem no duo de Gimme Shelter. E o baixo de Darryl Jones novamente foi de altíssimo nível.

Pausa para o bis, e os Stones voltam com a companhia do Coral da PUC, que introduz a linda You Can’t Always Get What You Want. Pra fechar? Provavelmente o maior riff da história da música: (I Can’t Get No) Satisfaction. Pra aplaudir de pé (e tinha como não ficar de pé?). Os Stones deixaram o palco ovacionados, com o sempre focado batera Charlie Watts enrolado na bandeira brasileira.

Às vezes na vida você é obrigado a tomar decisões. Escolher lados, times, posicionamentos… a sociedade sempre tenta impor dicotomias. Bom, depois desse segundo show dos Stones que presenciei ao vivo… não tenho com ter dúvidas naquela cretina pergunta: “Beatles ou Rolling Stones?”. :p

E tem mais Stones no Brasil pelos próximos 10 dias (prato cheio para os sites de fofocas também). A banda segue para dois shows em São Paulo, no Morumbi. Na próxima quarta-feira (24) e sábado (27). A turnê brasileira termina dia 2 de março, no Beira Rio, em Porto Alegre. Tá na dúvida em ir em algum desses? Não pense duas vezes!

Crédito das fotos: Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images

setlist

  1. Start Me Up
  2. It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
  3. Tumbling Dice
  4. Out of Control
  5. Like a Rolling Stone (cover de Bob Dylan)
  6. Doom and Gloom
  7. Angie
  8. Paint It Black
  9. Honky Tonk Women
  10. You Got the Silver
  11. Before They Make Me Run
  12. Midnight Rambler
  13. Miss You
  14. Gimme Shelter
  15. Brown Sugar
  16. Sympathy for the Devil
  17. Jumpin’ Jack Flash
    Bis:
  18. You Can’t Always Get What You Want
  19. (I Can’t Get No) Satisfaction
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Artigo Resenha

Já temos um vencedor: Super Mario Bloco zera o carnaval 2016!

Por Guilherme Schneider | @jedyte

Todo carnaval tem seu fim. E, geralmente, ele é na quarta-feira de cinzas. Mas, como aqui no Brasil toda chance de se divertir um pouco é bem-vinda (e necessária), a verdade é que ninguém mais espera o sábado de carnaval para começar a folia – muito menos decreta o final na ressaquenta quarta. Especialmente aqui no Rio, onde a cidade já transpira a euforia dos blocos bem antes da largada oficial.

Até aí tudo dentro dos conformes para quem tem um coração não-amargo. A diferença neste 2016 é que, na minha humilde opinião, o carnaval já foi “zerado”. Afinal, o Super Mario Bloco desfilou de surpresa na quinta-feira anterior ao carnaval, dia 4 de fevereiro. Isso, aquele bloco que toca músicas do clássico game Mario Bros. Irretocável.

Menos é mais
Que o brasileiro tem mania de grandeza isso não é nenhuma novidade. Só ver os nomes de estádios, quase sempre no superlativo (mesmo que não faça sentido algum): Mineirão, Castelão, Machadão e até Moacyrzão (!). Os blocos de carnaval não ficam atrás. Se exalta muito os tradicionais Cordão do Bola Preta ou Simpatia É Quase Amor, geralmente contando o público de milhão pra cima. Porém, o Mario Bloco está (propositalmente) cada vez… menor. E isso é bom.

Apesar de ter sido anunciado oficialmente para sair na quarta-feira de cinzas, o bloco foi transferido em cima da hora, com um comunicado divulgado 24h antes. Tudo para fugir do tumulto. Infelizmente muito gente que adoraria conhecer (ou retornar) ao Mario Bloco não pôde – e está fazendo campanha para um improvável bis. Dia de semana é mesmo foda. Ainda mais com concentração marcada para o solzão carioca das 16h.

Quem conseguiu ir ao 5° ano do Mario Bloco não se arrependeu. Não faço ideia do número oficial, mas, deve ter girado em torno de uns 500 felizardos. Famílias, gringos, cosplayers, gente que nunca jogou Mario… sobretudo gente que seguiu aquela procissão naïf com um sorrisão no rosto. Carnaval é não ter vergonha de ser criança um pouquinho. Cogumelos, Princesas, Estrelas, Marios, Warios e Luigis que o digam.

‘Video Games Live’ Brazuca
Por não estar tão cheio como nos dois últimos anos, os foliões puderam ouvir o som de pertinho. Música de primeira, de uma big band de metais cada vez mais entrosada guiada por Marco Serragrande, o comandante do bloco. Marco toca em diversos coletivos musicais, mas fica evidente o xodó que tem pelo Mario Bloco.

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Uma singela moedinha 8 bits dava um charme extra

Mais do que folia carnavalesca esse foi um espetáculo completo, com atos (intencionais, certamente). Há coerência, começo, meio e fim. Que não deixa nada a dever para o Video Games Live. O trajeto nem foi dos maiores: o belíssimo Mirante do Rato Molhado até a Pracinha Odilo Costa Neto. Cara de Santa Teresa.

O único bloco gamer possível?
Para quem tem pavor da ideia de um bloco de carnaval, o Mario Bloco talvez seja o que mais próximo poderia mudar seus planos. Principalmente para a galera nerd/gamer – que já ganharam outros blocos (até maiores) pelo país. O som é instrumental do início ao fim, mas é permitido (claro) cantarolar os temas de Mario. Um convite irresistível para quem já perdeu horas e horas jogando com o herói da Nintendo.

O maior feriadão do ano no Brasil pode até terminar celebrando os grande blocos, desfiles do sambódromo e afins. O barato da democracia da alegria é essa mesmo: divirta-se onde quiser (mesmo em uma maratona Netflix em casa). Mas, tenho certeza que a genuína alegria gamer falou mais alto na última quinta.

E que a trupe de Super Mario Serragrande ganhe o mundo, cada vez mais. Vida longa ao som do Mario Bloco!

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Resenha

RESENHA: Planet Hemp, definitivamente de volta à praça

Por Guilherme Schneider | @Jedyte | Fotos/Vídeo: Gustavo Chagas

Quem viveu os anos 90 não passou impune ao som do Planet Hemp. Apenas uma década após o fim da ditadura no Brasil o Planet estreou enfiando o pé na porta, ao lançar Usuário, um dos álbuns mais importantes da história do rock nacional. Agora, no apagar das luzes de 2015, a banda comandada por Marcelo D2 e BNegão está oficialmente de volta.

No último sábado (19/12) o Canal RIFF esteve presente na Fundição Progresso para acompanhar o show do Planet Hemp. Por duas noites seguidas eles conseguiram o “sold out” e super lotararam a casa de shows na Lapa, que poucas vezes esteve tão quente (literalmente!).

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Em um intervalo de cinco anos eles lançaram toda a sua discografia de estúdio: Usuário (1995), Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára (1997), e A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000). Um ano após o último álbum o grupo se separou. Mas o público não se esqueceu deles.

Agora, depois longo hiatus e algumas reuniões, o Planet Hemp está pronto para mais. “O que posso dizer é que não é mais uma reunião, é uma volta. Queremos fazer shows todos os anos”, garantiu D2 em entrevista recente ao jornal O Globo.

Pouco antes do abrir das cortinas D2 surpreendeu ao interromper o set do DJ Wilson Power, fera das noites de rock cariocas. D2 quis apresentar o DJ, um ato raro e que demonstrou uma humildade muito legal. O vocalista pediu uma noite de paz, disse que a banda estava emocionada nos camarins, e prometeu uma noite inesquecível – dito e feito.

Depois de buscar a “batida perfeita” de tudo quanto é jeito, D2 parece ter redescoberto o som incrível que o Planet fazia. A mistura de rap e hardcore foi definida como Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga – uma das muitas músicas bem recebidas na Fundição. Difícil definir ou reduzir. Um caldeirão sonoro bem cozinhado especialmente pelo excelente baixista Formigão.

Poucas vezes vi uma roda tão grande quanto a que se formou no show do Planet. Fiel, o público estava ensandecido, pulando e cantando boa parte do repertório. Os clássicos Não Compre, Plante! Legalize Já, Dig Dig Dig (tocada duas vezes), 100% Hardcore, Quem Tem Seda?, Zerovinteum, Porcos Fardados… e especialmente Mantenha o Respeito, com aquele refrão digno de uma  Smells Like Teen Spirit nacional.

A presente temática em favor da legalização da maconha já levou os integrantes para a cadeia no passado. Aquela contestação, vista como apologia, deu muita visibilidade a bandeira levantada pelo Planet.

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Mas, engana-se quem pensa que o Planet Hemp seja monotemático. Por trás das frequentes menções à maconha (e ao próprio nome da banda), há um discurso político forte. Com projeções bem pensadas, o show foi também visual, provocando com mensagens contra a política do país. E retratam como poucos a realidade das ruas do Rio de Janeiro – “a cidade desespero”, que não mudou muito nos últimos 20 anos.

O retorno às origens também foi marcado por um clima família, com presença de convidados como Serial Killer e Marcelo Yuka – que foi ovacionado após discurso energético pautado no “Fora Cunha”. Ah, e presente também esteve a memória do finado Chico Science, na ótima releitura de  Samba Makossa.

A mensagem política do Planet Hemp vai permanecer atual por muito tempo – salve qualquer mudança na legislação brasileira. Sem papas na língua, e sem auto censura, o Planet de hoje é o mesmo que causou um impacto poucas vezes visto no rock brasileiro. Bem vinda de volta, esquadrilha da fumaça!