Por Felipe Sousa | @Felipdsousa
Composta pelos irmãos Victor Meira (vocais/synths) e Alexandre Meira (guitarra/vocal), além de Lucas Felipe Franco (bateria) e Sandro Cobeleanschi (baixo), a Bratislava está na estrada desde 2009. A banda, que é uma das ótimas revelações do underground, estreou com o EP “Longe do Sono”, em 2011; e em 2012, lançou o primeiro álbum, “Carne”. Os paulistas ainda têm mais dois discos lançados, “Um Pouco Mais de Silêncio” (2015), e o mais recente registro, e um dos melhore nacionais desse ano, “Fogo”.
O RIFF bateu um papo com um grupo, que nos falou um pouco sobre os quase oito anos de carreira, o início difícil da banda no cenário independente, a experiência que tiveram no Lollapalooza desse ano, o processo de composição e produção de seu novo álbum “Fogo”, e muito mais em uma entrevista exclusiva. Leia abaixo:

Vamos começar pelo início, lá em 2009/2010, quando a banda foi formada. Conta pra gente, como a Bratislava surgiu?
Victor: Bratislava surgiu como projeto paralelo de uma bagunça que a gente fazia com vários amigos músicos. No começo éramos eu, Alexandre e Pedro – primeiro baterista da banda, que saiu ainda no mesmo ano. A gente se juntava pra tocar versões de diversos artistas que iam de Caetano a Beatles, de Gogol Bordello a Portishead. Por conta de um concurso da OiFM, de bandas com material autoral, resolvemos trabalhar em alguns rascunhos e temas que tínhamos na manga. Aí nunca mais paramos essa brincadeira de compor.
A sonoridade de vocês é bem original, além do nome, “Bratislava”, que é muito legal. Quais foram as influências para criar essa sonoridade e como definiram o nome? Que identidade pretendiam dar à banda?
Victor: A gente foi criando isso ao longo do tempo. Nos primeiros releases acho que a gente estava explorando gêneros e estéticas bem diferentes umas das outras… hoje ouço e acho meio esquizofrênico, mas isso foi ótimo para a nossa formação. O processo criativo era mais “acidental” também: a gente criava uma linha, se apegava e desenvolvia… As letras eram recortes de poemas que se encaixavam e eu me importava menos com o fator dialógico, isto é, com a expressão de uma mensagem clara. Gostava de como certos conjuntos de palavras soavam, num sentido estritamente estético/sonoro mesmo, e aí muitas delas soavam como sugestões de situações ou cenários fantásticos.
O primeiro álbum da banda foi o “Carne” (2012) e antes dele teve o EP “Longe do Sono” (2011). Como foram esses dois primeiros anos de carreira e a repercussão desses dois projetos?
Victor: Os primeiros anos foram de aprendizado. A Bratislava foi a nossa iniciação na música independente, o que significa que até então a gente nunca tinha feito um show, nunca tinha gravado um disco. Então teve gravação de demo em 2010 no estúdio em que ensaiávamos; teve show na lama pra apenas uma pessoa na plateia num pequeno festival de bandas em Embu das Artes; teve a gente caindo na falácia desses produtores que botam dez bandas pra vender ingressos pra um evento de “batalha de bandas”; teve todos os tombos e tropeços que uma banda pode levar. Mas tem histórias incríveis também. Organizamos muito bem o show de estreia da banda, que foi num galpão na Vila Madalena pra um público de 400 pessoas; fizemos o nosso primeiro show fora de São Paulo (Bar Valentino, em Londrina-PR); e de modo geral a gente foi sacando que é no coletivo que as coisas tem chances legais de funcionar, que não há lugar pra egotrip nessa estrada, que a conquista de hoje nunca garante a de amanhã e que é preciso de trampo firme e contínuo pra seguir fazendo o que se ama.
Aliás, Victor, falando nisso de projetos, você tem em paralelo à banda, pegadas literárias. Como está levando isso hoje? E de que forma a literatura tem influenciado a banda?
Victor: Tive uma produção literária bem prolífica entre 2006 e 2010. Coordenava 3 blogs coletivos de poesia (adorava essa época dos blogs) e participava esporadicamente de mais uns tantos. Com o início da banda naturalmente passei a dedicar mais tempo às composições e a atividade literária começou a se concentrar no formato da letra de música. Eventualmente rascunho um conto, uma narrativa, mas os poemas que inicio na maior parte das vezes acabo musicando. E sigo lendo sempre, poemas, romances, contos, o que vier. Gosto de ficção brasileira, latino-americana e francesa, de preferência coisa nova, de autores vivos ou lançados há menos de 50, 60 anos. Clássicos como Cortázar, Borges, Sartre e Camus estão entre meus favoritos.
Em 2015 vocês lançaram o segundo álbum, “Um Mais de Silêncio”, no formato de Zine. Como e por que decidiram apostar nesse tipo de trabalho? E pra quem quiser ter o Zine hoje, ainda é possível?
Victor: Claro! Qualquer um pode comprar nosso zine nos nossos shows ou na nossa lojinha on-line: bratislava.iluria.com. O zine foi um formato, pra nós, de dupla função: questionar a tradicional e quase-obsoleta mídia CD e explorar um formato que valoriza mais as artes gráficas do que um simples encarte enjaulado em um box acrílico. Na verdade você pode encarar o zine como um encarte de luxo, ou como um pequeno livro. O lance é que o objeto-protagonista deixa de ser a mídia (CD) e passa a ser o livrinho em si, as artes gráficas, as letras.
Lucas: A gente quebrou bastante a cabeça até chegar nesse formato. Surgiram outras opções, mas queríamos explorar uma vertente visual/gráfica forte e o zine veio como uma luva. Tanto que seguimos com esse formato no disco novo.

Ainda sobre o segundo disco, ao ouvirmos, fica claro a intenção da banda de fugir da previsibilidade, tantos nas letras quanto no instrumental. Como foi esse processo de composição?
Victor: Creio que você fala sobre o “Um Pouco Mais de Silêncio”, né? Pois é, acho que a questão do deslocamento do real (a sugestão do impossível e do absurdo) sempre foi um motor pra mim, como autor. O previsível é bobo. O complexo/estranho possui uma magia, que talvez seja a magia do desconhecido, do escuro. E o que brota da nossa cabeça, enquanto expressão, normalmente é amórfico mesmo, poucos sentimentos são classificáveis e menos ainda cabem em currais universais. Acho que é o que mantém o xadrez do “fazer humano” infinito. Então não acho que é uma fuga, como você propõe. É mais um fundamento pessoal. Acho que tudo o que componho e escrevo tem essa característica e isso deveria se evidenciar a cada lançamento. Mas aí em “Fogo” resolvi me dedicar mais à questão dialógica, comunicar além de expressar, e isso foi um conflito bom, estimulante.
Lucas: O “Um Pouco Mais de Silêncio” tem uma composição orquestrada demais, meio cabeçuda, eu acho. Mas era o que, de fato, era a Bratislava naquele momento. Experimentamos muito, gravamos em diversos estúdios, tínhamos claro o que queríamos produzir e esse foi o resultado.
Dois anos à frente na nossa linha do tempo, chegamos, em quem sabe talvez, seja o maior evento da banda. Lollapalooza. Como aconteceu o convite? E qual a sensação de tocar em um dos festivais de música mais disputados e queridos do circuito?
Victor: Recebemos o convite no dia 30 de agosto de 2016, dia em que fomos ver a Kalouv tocar no Prata da Casa e eu só pude dizer pros caras depois do show, porque ainda era informação sigilosa, toda aquela história. Fizemos festa baixinho, num cantinho lá no SESC Pompeia, foi bem engraçado. Meses antes, uma amiga nossa que é jornalista apresentou nosso som para um dos produtores do festival. Ela fez o contato na época em que saiu uma matéria no Caderno 2 apontando a Bratislava como promessa do rock nacional. Rolou um timing bom, acho que chamou a atenção deles. Pra nós era mais um tiro no escuro, coisa que fazemos todos os dias como parte integral da nossa atividade de booking, de participação em programações musicais e festivais. E aí em agosto veio a surpresa do convite, que explodiu nossa cabeça. Sobre a sensação de tocar no festival, já toda uma outra história. Foi uma experiência maravilhosa. Nos sentimos super-heróis naquele dia, com aquela estrutura que engrandecia a nossa figura, a nossa voz. Provamos um pedacinho do paraíso, acho que é a sensação que fica. E há toda uma história de evolução pessoal e musical dos quatro da banda, ligada aos preparativos para o grande dia. Foi uma fase deliciosa.
Lucas: Foi um baita momento! Aquela estrutura a favor do nosso som! Mas é só mais um tijolinho colocado na construção. Até hoje fica aquele gostinho de “será que foi verdade tudo isso”? E foi! Uma conquista enorme por uma banda que faz tudo independentemente.

Conseguiram ver algum show? Algum que fez a banda vibrar como aquele verdadeiro fã?
Victor: Só consegui ver um único show inteiro, curtindo e me entregando ao som como fã, que foi o show da MØ. Against all odds, adoro o som pop dela, acho diferente de outros pops. Sinto honestidade, uma verdade ali no que ela faz, e a voz dela me hipnotiza. Foi um “showzásso”.
Lucas: De manhã, quando chegamos no palco pra passar o som a galera do The Weeknd estava terminando de passar o deles. Ficamos curtindo esse momento e depois trocamos uma ideia com os músicos da banda. Ali, pelo menos pra mim, já valeu o rolê todo.
Como foi a relação com um evento de porte tão grande? Acham que esses tipos de festivais podem prestigiar mais as bandas independentes?
Victor: Não sei se podem prestigiar mais do que já o fazem. O lineup é montado com base crescente no estimado número de fãs que cada artista tem, então é natural que as bandas menores e mais novas – que tem menos público – se apresentem mais cedo. Funciona assim em qualquer festival. E fomos muito bem tratados, o som estava animal, passamos o som sem correria, os traslados foram eficientes, nada faltando no camarim… enfim, tudo joia! Uma coisa que sentimos falta foram coberturas dos shows nacionais, especialmente por parte dos sites mais relevantes da cena independente, que lemos e acompanhamos. Muitos deles cobriram do meio do festival pra frente, em ambos os dias, deixando de lado as bandas menores. Tomara que nas próximas edições eles mudem esse mindset.
Aliás, como vocês enxergam a relação entre o mainstream e o underground hoje em dia? O quanto mudou de 2010 até aqui?
Victor: Acho que são duas coisas muito distintas. Fazer música significa uma coisa bem diferente pra quem tá jogando no mainstream. E nesses últimos 7 anos acho que estamos vivendo uma revolução constante no mercado fonográfico. Todo ano você tem que dar um refresh no seu set enferrujado de “certezas” em relação a esse mercado.
Lucas: Ás vezes eu comento que existe um mainstream dentro do underground. Bandas que se sobressaem e colhem frutos no underground de um jeito parecido com o que rola no mainstream, sei lá. E sim, é tudo muito dinâmico mesmo.
Agora, finalmente vamos conversar um pouco sobre o mais recente trabalho da banda. O terceiro disco, “Fogo”. Lá atrás questionamos sobre a influência que a literatura exerce na Bratislava, e elas ficam claras ao ouvirmos Fogo. A gente percebe muita inquietação sobre o modelo de sociedade atual e insinuações existencialistas. Isso confere? Qual é a ideia desse álbum?
Victor: Sim. “Fogo” é um álbum no qual resolvemos transmitir com mais clareza o modo como nos vemos, como entendemos o nosso papel no mundo hoje. Acho que mesmo as canções mais introspectivas demonstram esse posicionamento.
Lucas: FOGO é música de mensagem. E tudo reflete o que, nós integrantes, vivemos.

Como foi o processo de composição do “Fogo”? Como cada membro da banda contribuiu na composição?
Victor: Foram diversos processos, cada música feita de um jeito. “Enterro” começou com uma ideia do Xande, uma linha de guitarra. “Sonhando” eu compus no piano (e no disco nem gravamos piano) e já levei para a banda mais formatada. “Amor de Chumbo” nasceu de uma jam, de uma onda que o Sandro e o Lucas estavam tirando durante uma sessão de composição. “Trancado” nasceu dessa linha de baixo que o Sandro criou, que percorre a música toda.
“Céu de Pedra” tem uma história engraçada. Compus ela inicialmente para “Escorpião”, álbum do meu projeto paralelo, Godasadog. Parte dos vocais desse disco eu gravei no estúdio de um amigo, Pedro Rizzi, e ele, ao me ouvir gravar apertou um pause, veio até mim, olhou no meu olho e falou “cara, essa música é Bratislava”. Isso aconteceu em agosto ou setembro do ano passado, justamente no período em que a Bratislava estava trabalhando nas novas composições. Decidi dar ouvidos ao amigo.
“Dança de Doido” também partiu de uma jam entre eu, Sandro e Lucas, no quintal da casa dos meus pais, interior de São Paulo. “Fala Prescindível” é uma obsessão minha de longa data, mas que resolvi botar em prática só agora pra esse disco. Li “O Jogo da Amarelinha”, romance do escritor argentino Julio Cortázar, em 2010, e um trecho específico ficou vagando minha mente por todos esses anos. Trata-se do capítulo 143, presente na 3a parte do livro (nomeado “capítulos prescindíveis” – daí o nome da faixa), em que um dos personagens relata uma experiência de intersecção potencial de sonhos. A ideia me fascinou e grudou na minha cabeça por muito tempo. Reli o livro durante o processo criativo de “Fogo” e iniciei um “combate não-corporal” com o capítulo, reescrevendo-o inúmeras vezes, regravando também dezenas de vezes até chegar em algo que eu acho que fazia sentido pra mim – como se fosse uma memória minha, pessoal (o ponto onde não há mais diferenciação entre ficção e memória).
Por fim, “Fogo” talvez seja o único resgate de um tema que compus há alguns anos. Compus no baixo o tema inicial talvez entre 2013 e 2014, e a sequência da música foi desenvolvida junto à banda. As letras dela e de “Trancado” foram as últimas a serem escritas (finalizei ambas alguns dias antes da gravação dos vocais do disco, quando todo o restante já havia sido gravado). A primeira versão da letra de “Fogo” falava sobre criminalização do aborto. Na época quebrei muito a cabeça no assunto, lendo muita coisa, conversando com muitos amigos e amigas sobre isso. Naturalmente fui tendo vontade de abrir mais a discussão até chegar no ponto em que chegou: o meu lugar de fala e o meu papel social.
Já a ideia de “Trancado” surgiu durante a gravação de bateria. Chovia muito lá fora e, durante uma das gravações, fiquei olhando hipnotizado para o monitor da câmera de segurança. Alguns minutos antes o Sandro tinha comentado, na sala de gravação, que ele nunca tinha sonhado na vida, ou que não lembrava se já tinha sonhado alguma vez. Eu estava sob efeito dessa revelação assustadora (imagine, nunca ter sonhado!), olhando fixo para o pequeno monitor que mostrava as gotas de chuva resvalando contra o portão externo do estúdio. Então imaginei O Sonho, em si, a entidade-sonho, como se fosse um vulto vestido de trapos escuros, chegando à noite pra mostrar coisas ao seu “amo” adormecido, mas ao tentar entrar em sua mente encontrava o portão trancado e não conseguia entrar. Foi o ponto de partida, a inspiração.
Cada letra tem sua história, cada composição, cada linha instrumental. E todos os 4 mexem, opinam, mudam coisas ao longo do processo criativo. É bastante orgânico e até mesmo composições como “Sonhando” e “Céu de Pedra”, que eu já trouxe estruturadas e com letra, acabam se modificando, me inspirando mudanças de narrativa, incitando progressões harmônicas novas ou arranjos novos.
Sobre a produção/gravação do disco, como foi feita? Foi muito diferente do “Um Pouco Mais de Silêncio”?
Victor: Foi bem diferente. Em “Um Pouco Mais de Silêncio” gravamos cada instrumento em um estúdio diferente. Queríamos fazer um giro, entender os processos de vários produtores e passear por diversos pontos de vista ao longo da gravação. Foi um aprendizado incrível, uma puta experiência. Já em “Fogo” decidimos o contrário. Optamos por profundidade ao invés de abrangência e diversidade de pontos de vista. Fizemos uma gravação cautelosa e sem pressa junto ao produtor Hugo Silva, do Family Mob Studios. Ele se envolveu bastante e isso foi muito precioso para o processo. Enfim, duas experiências distintas, ambas com muitos aprendizados.
Em “Enterro” temos uma narrativa do triste desastre natural em Mariana (MG). Como a banda viveu esse incidente, e como ele inspirou na composição da música?
Victor: Vivemos essa tragédia específica como a maioria dos brasileiros, digo, através dos noticiários. Não estávamos presentes no local e no dia do ocorrido, mas o acontecimento em si é estarrecedor e tomar conhecimento dele nos comoveu muito. É um marco histórico no Brasil e uma história que merece ser relembrada sempre, que merece ter mais tempo de vida na memória dessa geração, tamanho o descaso das mineradoras responsáveis pelo desastre.
A faixa “Fogo” é sem dúvida uma das mais intensas do disco. Qual mensagem ela tenta passar?
Victor: Ela é canção situacional, uma auto-análise e um questionamento: pra que que eu tô aqui? Qual é meu papel? Eu tenho um papel? Eu mesmo! Homem, branco, hetero, estereótipo historicamente nefasto, perverso, lesivo e covarde… Eu-criatura, em meio a esforços e lutas por justiça, posso ter um papel ao mesmo tempo ativo e positivo em busca de um mundo sem diferenças, sem gangorras sociais? Como carrego essa herança maldita e não me deixo aniquilar pelo peso dela? Como sequer falar sobre isso, sempre sob o risco hermenêutico? É sobre isso, sobre externar um entendimento sobre si mesmo enquanto agente social. O mundo vive uma fase flamejante, maravilhosamente auspiciosa. Acho que as coisas nunca foram tão claras, tão quentes.
Lucas: É essa inquietação social, esse cotidiano intenso. “Fogo” é sobre saber onde e como se colocar, sobre quando ser passivo ou ativo. Tanta coisa acontece o tempo todo e, né?, o que fazemos? Essas coisas queimam, saca?

Falando sobre as participações de Gustavo Bertoni (Scalene) na faixa “Enterro”, e Aloizio na faixa “Dança de Doido”, como foram os convites e as escolhas das músicas que cada um participaria?
Victor: Chamei o Gustavo pra participar depois de uma jam que rolou no estúdio Family Mob. Nessa feita ele cantou um som do Far From Alaska, cantando de um jeito bem gritadão, e eu fiquei assombrado com o quanto aquilo era foda. Enxerguei a voz dele encaixando como uma luva nesse tema-ápice de “Enterro”. Já o Aloizio é um grande parceiro de jornada. Tocamos juntos no projeto solo do Beto Mejia (ex-Móveis Coloniais de Acaju) e começamos a trocar muitas ideias, muitas figurinhas. A gente acompanha de perto o trabalho um do outro, ainda faremos muitas coisas juntos. É muito massa poder compartilhar nosso som com caras tão talentosos.
O disco completo contém oito músicas – Gostamos de discos curtos assim. Mas dá aquela sensação de querer mais. Pensei, em tom de brincadeira, “é uma alusão aos oito anos da banda”. É isso mesmo? Ou existe alguma outra motivação?
Victor: Olha só, que massa! Não tinha feito essa conexão com o número 8! Queríamos mesmo lançar um disco mais conciso e direto. A gente ainda gosta muito de tocar músicas do anterior, “Um Pouco Mais de Silêncio”, então boa parte do repertório anterior nos shows permanece. Ao mesmo tempo, passamos a nos entender como uma banda melhor, mais bem preparada e pronta pra gravar um novo registro.
Quando pensaram em fazer um disco mais conciso, como mencionou, a ideia sempre foi ter oito faixas? Ou ficou alguma música ai guardada que os fãs de vocês podem esperar pra ouvir?
Victor: Haha, pergunta perniciosa! Não ficou nenhuma pra trás não. Sabemos que o processo criativo clássico de um artista é compor/gravar mais canções do que serão lançadas, às vezes 20, 30, 40 canções pra selecionar as 10 ou 12 que formarão o álbum. Mas a Bratislava nunca trabalhou assim. As composições que a gente inicia e não vê muito futuro a gente já larga desde o começo, antes de consolidar qualquer coisa. As que a gente leva pra frente a gente mexe de maneira insistente e inquieta até chegar aonde queremos.
Além disso, um dos princípios da nossa fase atual é ser fiel ao que estamos vivendo e sentindo HOJE, jamais resgatar ideias de 2 ou mais anos atrás. Acho que a gente vive uma transformação de mindset violenta, diariamente, e procuramos estar muito atentos a isso. Queremos que as mensagens que iremos passar nos shows não sejam desprovidas de um sentido real e forte pra nós quatro. Então, quer dizer, mesmo se tivéssemos deixado alguma composição pra fora do álbum, não a lançaríamos pois o tempo dela já teria escorrido. Nosso próximo lançamento vai ser sempre uma música recém-composta, refletindo as nossas ideias desse tempo futuro.
Como tem sido a divulgação e repercussão do álbum?
Victor: Tem sido bem positiva! Tem rolado convites para shows, tem aberto porta pra tocarmos em festivais e marcar shows em cidades nas quais ainda não tínhamos tocado. Cada álbum abre novas possibilidades, gera novas experiências. E temos recebido feedbacks muito carinhosos de fãs e amigos.
Lucas: Incrível demais. Na real a galera tem sacado a mensagem e isso não tem preço!

Para a gente finalizar, como vocês enxergam a Bratislava de hoje em relação ao início da carreira? E o que podemos esperar daqui para frente?
Victor: A gente nunca teve uma formação tão firme e comprometida como essa, que se consolidou com a entrada do Sandro em 2014. Até então a banda já tinha visto muitas formações, as gravações tinham acontecido em meio a entrada e saída de membros, por motivos diversos. Hoje a gente se conhece bem e compõe com mais consciência da onda e da expectativa de cada um. Isso gera músicas e álbuns cada vez mais coesos, uma identidade cada vez mais forte. Só tende a melhorar!
Lucas: Eu entrei em 2013. Evoluímos muito de lá pra cá e isso é muito legal porque é o que a gente busca. A gente tem muita ideia e é muito massa poder concretizá-las em conjunto.
Ouça abaixo “Fogo”, o excelente terceiro disco da banda.