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Entrevista: Idyh

Por Tayane Sampaio

O título de “Capital do Rock” talvez não faça mais tanto sentido, mas, certamente, Brasília é a capital da música. A cena musical da Cidade está borbulhando e, com a união entre as próprias bandas, a agenda cultural está sendo preenchida pelos eventos no estilo faça você mesmo.

Além disso, tem muita gente nova se apresentando ao público brasiliense. Muitas bandas, que mal lançaram material, já mostram um som original e que tem muito potencial. O entrevistado de hoje, Idyh, é um exemplo dessa nova geração.

Idyahuri Nunes lançou, no final de março, seu primeiro EP, “Ávidos Impulsos”. As quatro músicas são consequência de mais de uma década de envolvimento com o mundo da música, que começou bem cedo, aos 13 anos, quando Idyh ganhou seu primeiro violão.

Conheça, na entrevista abaixo, um pouco mais de Idyh.


Nessa sua iniciação com o violão, quais artistas eram sua inspiração? Quem te fez querer aprender a tocar?

Eu comecei a aprender tocar violão com umas revistinhas de cifras que tinha antigamente. Meu tio me deu uma caixa dessas revistas e lá tinha de tudo, mas principalmente coisas do rock nacional, como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí e outras coisinhas mais. Sobretudo, Legião Urbana foi essencial pra que eu aprendesse que se pode fazer uma música boa com apenas dois ou três acordes. Eu demorei menos de um mês com o violão pra já me aventurar a compor canções (que eram, basicamente, histórias cantadas).

Essas primeiras influências ainda te inspiram, hoje em dia?

Não posso negar que subjetivamente ainda sou influenciado, pouco, mas sou. Reconheço o valor que tiveram na minha construção musical e ainda os admiro, mas confesso que depois de consumir tanta música diferente, de vários gêneros, países e épocas, eu acabei pluralizando mais o meu gosto e sendo influenciado por outras várias coisas também.

E quais são essas outras influências?

Aconteceram marcos na minha vida, que mudaram não apenas meu gosto musical, como também minha percepção do mundo. O primeiro grande impacto musical da adolescência foi o contato com os Beatles. Nessa época eu tinha uns 14 anos e ouvia a discografia incessantemente. Logo depois eu fui descobrindo o classic rock e me deparei com o show “The Song Remains the Same”, do Led Zeppelin, e essa experiência foi orgástica. Depois veio Dylan, o indie rock e outras coisas variadas de fora como o jazz e o blues. Paralelamente a isso, eu continuava a ouvir muita música brasileira por influência do meu pai, e a partir daí eu fui mergulhando na parte mais melancólica disso tudo, até que eu me deparei com Milton Nascimento e Radiohead. Eu poderia citar mil bandas e artistas mas acho que, definitivamente, os sons que realmente foram divisores de águas na minha vida foram o disco “Clube da Esquina”, do Lô Borges e Milton Nascimento, e o “In Rainbows”, do Radiohead. Até hoje eu sou fortemente influenciado por eles.

As músicas do seu EP têm uma sonoridade bem diferente, entre si, mas conversam muito bem. Essas composições são mais recentes ou estão misturadas com coisas mais antigas, de quando você começou a compor?

A canção mais antiga é a “Mil Motivos”, que, inclusive, eu tocava com uma banda que tive há uns sete anos atrás. A “Seremos Nós?” é derivada de uma outra música chamada “Recitar”, e foi dela também que veio a “Fez Morada”, ou seja, uma música acabou virando três. Já “Estilhaços” veio no meio do processo de gravação do EP. Na época, eu estava vivendo um término de relacionamento, nisso acabei desistindo de uma outra música e coloquei “Estilhaços” no meio, já aproveitando a conveniência da situação.

Todo o processo de gravação das músicas foi longo, durou mais de dois anos. No final das contas, o EP saiu como você tinha pensado ou o resultado foi completamente diferente do planejado?

Assim, se fosse hoje, eu não gravaria nenhuma das músicas, por questão de fase mesmo. Nesse período de dois anos eu mudei muito a minha forma de compor, então as músicas acabaram sofrendo diversas alterações, pois eu queria adaptá-las à minha nova fase de produção. Obviamente que não deu totalmente certo, pois as músicas acabaram ganhando vida própria e eu vi que se eu mudasse demais elas se descaracterizariam com o que eu havia pensado inicialmente, o que não faria muito sentido pra mim. A parte boa foi o amadurecimento dos arranjos que elas ganharam no processo. No fim das contas, o resultado estético foi surpreendente para mim, e eu não acho que poderia ter ficado melhor. Essas canções representam uma fase válida da minha vida e, apesar de eu ter mudado bastante, as músicas não perderam seu valor.

Você chamou um time de peso pra gravação do álbum. Como rolou a aproximação com a galera? Vocês já se conheciam ou o primeiro contato foi o convite pra participarem do projeto?

A ideia, de início, era meio megalomaníaca e queria envolver músicos mais famosos como Cícero, Silva e outros, mas eu percebi que era prepotência demais pra um EP de estreia e congelei essa ideia. Comecei o processo de gravação apenas com meu amigo Janary Gentil, que foi também quem produziu o disco. Através do Janary eu conheci o Arthur Lôbo, que assumiu o baixo; o Arnoldo Ravizzini, bateria; Walter Cruz, teclados; e Kelton Gomes que fez algumas vozes e guitarras. Todos eles são músicos de nome aqui em Brasília. Houve até um convite ao Gustavo Bertoni, do Scalene, pra participar, mas ele estava com a agenda conturbada por causa daquele boom do Superstar. Conversamos por um tempo, mas iria ficar corrido demais pra ele, e meio que não deu em nada. Até tentei chamar alguns amigos mais próximos, mas também não deu muito certo.

O “Ávidos Impulsos” ainda é recente, mas você já tem planos para o próximo lançamento?

Tenho planos de gravar um clipe e lançar em breve. Isso vai depender de muitos fatores, mas a ideia é lançar esse ano. Também tenho três álbuns fechados, guardadinhos, esperando para serem gravados. Cada álbum tem exatas doze faixas. No decorrer dos shows, eu tocarei algumas dessas músicas, mas o lançamento talvez demore um pouco, pois antes disso deve rolar algum single.


Escute o “Ávidos Impulsos” aqui:

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Entrevista: Scalene

 

Por Tayane Sampaio

O que vem depois do Éter? E de um Grammy Latino? Nos últimos anos, os brasilienses da Scalene vêm acumulando uma sequência de vitórias: seja o prêmio de “Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa”, uma agenda cheia ou uma legião de fãs chapadões pelos riffs de guitarra!

Sem dúvidas, todo esse reconhecimento é fruto do árduo trabalho do quarteto, ao longo dos oito anos de banda. Em um dos momentos mais frenéticos da carreira, os meninos arrumaram tempo pra compor e gravar as músicas do próximo disco.

O baixista da banda, Lucas Furtado, mais conhecido como Lukão, nos contou algumas coisas sobre o novo álbum, que você lê na entrevista abaixo.


Primeiro, o que todo mundo quer saber: vocês já têm uma previsão para a data de lançamento do novo álbum?

Ainda não! A única coisa que sabemos é que vai sair no segundo semestre, mas queremos lançar o mais rápido possível!

 

É a primeira vez que a banda grava fora do DF, longe de casa. Por que escolheram São Paulo?

Tivemos a oportunidade de utilizar o estúdio da Red Bull Station em São Paulo, que é um lugar incrível tanto pela vibe do lugar (que recebe exposições e abriga artistas e estudantes) quanto pelo estúdio em si, que conta com equipamentos de ponta e uma equipe fenomenal. Foi uma escolha fácil e contribuiu muito para a qualidade do disco.

 

Tem alguma música antiga, não lançada, que vocês tiraram da gaveta e deram uma cara nova ou as músicas desse novo álbum são todas composições atuais?

Quando “sobra” alguma música da produção de um disco anterior, geralmente a descartamos porque quando inicia o processo de composição de um novo CD estamos em um novo estágio da banda, com outra mentalidade e buscando outras sonoridades. Por isso só trabalhamos com novas composições a cada disco.

 

Geralmente a banda trabalha um conceito pro álbum. Isso vai se repetir?

Sim e esse conceito vai ficar bem claro pra galera quando o disco sair. É bem direto ao ponto.

 

Tem algum tempo que vocês estão com um músico de apoio nos shows, o Samyr (namí, Aloizio, Divinas Tetas), que também participou da gravação do novo disco. Ele contribuiu, de alguma forma, no processo de composição?

O Samyr é, além de um grande amigo, uma influência positiva na vida de todos nós. Com certeza ele contribuiu para a composição, mas de uma forma mais indireta, mostrando novas sonoridades a abordagens musicais e não necessariamente compondo partes específicas de músicas

 

Se vocês tivessem que escolher uma música da Scalene, dos lançamentos anteriores, para ser um “resumo” do próximo álbum, qual seria?

Essa pergunta não tem resposta pelo simples fato de que até dentro dos outros trabalhos é difícil escolher uma música que resume o álbum inteiro. O que podemos dizer é que o próximo disco vai ser diferente do ÉTER assim como o ÉTER é diferente do Real/Surreal.

 

No decorrer dos anos deu pra perceber que, aos poucos, vocês estão abraçando mais influências brasileiras na sonoridade da banda. Quais são os artistas brasileiros que mais têm inspirado vocês?

Metá Metá, francisco, el hombre, Elza Soares, BaianaSystem, Kiko Dinucci e vários outros.

No geral, o que os fãs devem esperar para esse primeiro semestre do ano?

Muitos shows e ficar ligados nas notícias da banda, porque vem coisa boa por aí!


Confira o RIFFPÉDIA que gravamos com a Scalene:


Escute o último álbum da banda, Éter, aqui:

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Entrevista Lançamentos

Deixa Fluir é o novo single da Drops 96! Confira o clipe e curiosidades

Por Natalia SalvadorThaís Huguenin

Os cariocas da Drops 96 lançaram na última semana o clipe da música Deixa Fluir, primeira faixa do terceiro álbum do grupo, “Busque Mais da Vida” (2016). Malabares, poeira e, principalmente, sonho fazem parte do roteiro produzido pela AMSTRDM. O vídeo conta a história de um executivo cansado do seu trabalho, que encontra nas artes circenses uma fuga de tudo.

A banda composta por Fernando Sampaio, Marcio Quartarone, Fabio Valentte, Bruno Lamas, Leonardo Ugatti e Victor Toledo contou ainda com um sétimo integrante na gravação: os fãs!  O Canal RIFF conversou com Fernando, responsável pelos teclados e sintetizadores, para descobrir outras curiosidades. Confira!

Segundo Fernando, Deixa Fluir foi, desde o início, a música que mais gerou identificação dentro da banda. “Ela foi o fio condutor de todo o trabalho e a responsável por fugirmos da nossa zona de conforto, experimentar timbres novos, uma onda nova. A resposta nos shows tem sido incrível”, contou. Para o clipe, a banda queria passar a mensagem de deixar fluir o que te faz feliz na vida, que as coisas vão começar a dar certo e, para isso, acharam a pessoa ideal.

Essa história é exatamente o que aconteceu com a vida do Melão, protagonista do clipe. “Ele era publicitário, trabalhava em um grande escritório da área e resolveu largar tudo para se dedicar ao que ele amava fazer. Hoje ele é um grande artista circense, vive disso e quando a galera da AMSTRDM nos apresentou essa história, todos nós piramos e acreditamos que seria a melhor história para ilustrar o nosso som”, disse.

O vídeo conta, ainda, com a participação super especial dos fãs e amigos da banda. Nando conta que essa relação é muito bacana:  “Eles frequentam nossas casas, vão nos churrascos na casa do Leo ou do Bruno, é uma coisa bem próxima mesmo”, afirmou, contando que eles possuem até um grupo no Whatsapp, onde rolam, além de novidades da banda, muita zoeira. “A gente quis que eles participassem desse trabalho porque ainda não tínhamos nenhum registro desse tipo. Queríamos sorrisos sinceros na gravação e essa foi a melhor forma para captar isso. Nós queríamos dar esse presente para eles”, concluiu.

Para o futuro, a Drops96 prefere não fazer grandes planos a longo prazo e viver cada momento de uma vez. “Queremos divulgar ao máximo todo o CD, chegar em cidades que ainda não tocamos, voltar em cidades que já plantamos uma semente em shows passados… Vamos deixar fluir”, contou.

Com vocês o clipe de Deixa Fluir:

Ps. Nós apostamos que depois você vai se pegar cantarolado “Deixa fluir, uô, uô..”

Para a galera do Rio, o próximo show deles é em Abril, com as bandas Selvagens à Procura de Lei, Vivendo do Ócio e Divisa, no Teatro Odisséia. Enquanto isso, que tal curtir as músicas para já entrar no clima?

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Depois de tour pelo nordeste, Alaska se prepara para gravar o próximo CD

Por Natalia Salvador | @_salvadorna


Revelação com “Onda”, banda Alaska começa a produzir o próximo CD


Que 2016 foi um ano de muitas surpresas e boas descobertas para o rock brasileiro, todo mundo já sabe. Uma das bandas que ganhou seu espaço e vem crescendo no cenário nacional é a Alaska. Indicados em diferentes prêmios, inclusive no Prêmio RIFF de Música, como banda revelação e aposta, André Ribeiro (voz e guitarra), Vitor Dechem (teclado, guitarra e voz), Nicolas Csiky (bateria), André Raeder (guitarra) e Wallace Schmidt (baixo) prometem não diminuir as novidades e surpresas para 2017. O Canal RIFF conversou com o vocalista André Ribeiro, que falou sobre o clipe de Impulso, a tour do último ano e os planos para o futuro. Confira!

O CD de estreia da banda paulistana é o ‘Onda’, de 2015. Muito elogiado, o trabalho vem sendo desenvolvido e gerando bons resultados. Um bom exemplo disso é o clipe de Impulso, quarta faixa do álbum, lançado em novembro de 2016. Com um roteiro de suspense, o vídeo foi gravado em um estacionamento, no centro de São Paulo, durante a madrugada. “Tivemos várias reuniões com o Santiago Paestor e o Vitor D’Angelo– diretores- antes de gravar. As ideias começaram a aparecer ainda no primeiro semestre do ano e foram meses de pré-produção”, contou, ressaltando que esta foi uma das vivências mais legais e cansativas que já tiveram.

Dentre as experiências vividas em 2016, a banda teve a oportunidade de tocar em diferentes estados do país. “Foi muito massa viajar o quanto viajamos, além de conhecer e dividir o palco com muitos artistas ótimos como Maglore, Scalene, Vivendo do Ócio, Sarina e várias bandas que trabalham muito para entregar músicas e shows incríveis. Também podemos conhecer pessoas que interagem com a gente pelas redes sociais e isso tudo torna o aprendizado, que é intenso e nem sempre da forma que a gente gostaria, muito mais agradável. Faz tudo valer a pena!”, afirmou André.

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Alaska @2017 | Divulgação

Para quem já acompanha a banda, sabe que, para a nossa alegria, eles estão empolgados com que vem por ai e nos enchendo de curiosidade. “Tem muita coisa para rolar ainda esse ano. Vamos lançar mais um ou dois clipes do ‘Onda’ e estamos começando a escrever o segundo álbum”, contou. Ainda no início do processo criativo, o vocalista não descarta a opção de financiamento coletivo -usado no último CD -, que tem ajudado as bandas independentes e ainda garante aos fãs e amigos recompensas exclusivas. “Estamos bem animados pela próxima fase, seja lá o que isso significa. É muito bom fazer parte de cada etapa do processo. Pretendemos continuar fazendo as coisas dessa forma!”, acrescentou.

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Entrevista

Conheça Miguel Bestard, novo guitarrista da Suricato, e saiba quais são os planos da banda para 2017

Por Natalia Salvador | @_salvadorna

Para os fã da banda Suricato, o ano de 2017 começou de maneira diferente. No dia 10 de janeiro, um comunicado nas redes sociais da banda anunciava a saída do baterista Pompeo Pelosi e do guitarrista Guilherme Schwab. O folk rock produzido pela Suricato já é um velho conhecido. No ano de 2014, a banda ganhou destaque na primeira edição do reality show SuperStar, onde foi finalista e apresentou ao público diferentes instrumentos de culturas estrangeiras. Para compor a nova fase, foram anunciados os nomes de Miguel Bestard, Thiago Medeiros, Cesinha e Cauê Nardi. Enquanto não vemos a nova formação nos palcos, o Canal RIFF conversou com o uruguaio Miguel Bestard, novo guitarrista, que contou como recebeu o convite e quais são os planos para o novo ciclo e ano. Confira!

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RIFF: Quando você chegou ao Brasil? Por que você decidiu vir morar aqui?

Miguel: Cheguei no ano de 2014, procurando novos desafios, ritmos e experiências musicais que façam de mim um melhor músico. No Uruguai eu já tinha um histórico de bandas e projetos há muitos anos, sendo um país pequeno já tinha alcançado  conquistas importantes, mas foi ficando pequeno pra os meus objetivos. O Brasil tem um legado musical gigante, com muitos músicos, compositores e intérpretes de incrível nível historicamente, muitos estilos e novos elementos para acrescentar e procurar melhorar o meu estilo.

R: Em que lugares você costumava se apresentar? Sempre fez shows solo?

M: Toquei em tantos lugares… Onde desse pra fazer uma canja ou me juntar a outros músicos. Minhas primeiras tentativas aqui no Rio foram no Largo da Carioca, um tempinho tocando com minha caixa e violão. Logo fui conhecendo pessoas e músicos que chegavam pra mim interessados pelo meu som, então toquei em outros lugares e assim que foi.

R: Como conheceu a Suricato?

M: Conheci naturalmente escutando musicas na radio e assistindo televisão. Por intermédio do meu amigo Daniel Lopes, conheci Rodrigo pessoalmente e ele ficou interessado no meu trabalho e começamos a ficar em contato.

R: E como rolou o convite? Você esperava por isso? 

M: Logo depois de conhecer o Rodrigo falamos de fazer algo juntos. Essa coisa de músicos, eu imaginava ele de vez em quando aparecendo pra tocar comigo. Mas depois duma conversa de horas na casa dele bebendo chimarrão juntos, ele disse “você tá afim de levar um som com a gente?”. Eu achei, com as minhas limitações de gíria e do idioma, que ele tava me convidando a tocar uma música num show da banda, e ele falou “Eu quero saber se você quer tocar na banda”, então eu disse claro que sim!

Não esperava sinceramente o convite, mas sou um afortunado por isso! Uma banda assim tão boa, é um prazer tocar junto com eles. Adorei o jeito de tocar, tanto como os arranjos, timbres e as composições. Sou muito afortunado de poder fazer parte de um projeto tão legal.

R: Você também ministra aulas e workshops, pretende continuar ensinando? 

M: Sim. Pretendo seguir também, mas naturalmente vou ter menos tempo. Mas dar aulas é algo que gosto muito também, e gostaria de desenvolver mais esse trabalho com workshops e tudo no futuro.

R: Em 2015 a banda tocou no Rock In Rio e esse ano divide o palco do Lollapalooza com artistas como Metallica e The XX. Como você está encarando esse desafio? Já teve a experiência de tocar em um grande festival como esse?

M: Já estamos nos preparando para esse grande festival! Ensaiando um show digno de um festival tão grande, armando musicalmente detalhes interessantes pra ocasião. Tenho tocado em vários festivais, mas nunca tinha tocado num festival tão grande! Eu já tive a experiência, no ano de 2013, junto com uma banda que fazia parte, de abrir um show pra o Aerosmith, no Estadio Centenário em Montevideu, na turnê pela América do sul que eles fizeram naquele ano, e foi algo genial! Mas o Lolla vai ser ainda mais fantástico!

R: Quais são as suas expectativas para o ano de 2017? O que os fãs podem esperar da Suricato de cara nova?

M: Tentar fazer o melhor possível, dar todo meu trabalho dentro da banda, levar o melhor som possível e, sobretudo, desfrutar desse momento tão lindo. Estamos trabalhando em novas músicas e o próximo disco tá vindo daqui a pouco. Inclusive vamos fazer algumas musicas novas nos próximos shows, no Shopping Downtown e na praia de Ipanema. Pedir mais alguma coisa na verdade seria absurdo!

Os primeiros encontros com a nova formação da banda vencedora do Grammy Latino 2015, Melhor Álbum de Rock na Língua Brasileira, já tem data marcada: sábado, dia 21, no Shopping Downtown e domingo, dia 22, no posto 10 da praia de Ipanema. Além de muitas novidades, a entrada dos dois eventos é gratuita! Nos vemos lá?

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Entrevista: A saga fanzineira de Márcio Sno

Por Ricardo Caulfield

A internet não acabou com os fanzines. Os corajosos resistem, dedicando às suas paixões, como rock, games ou hqs, tempo para imprimir os seus jornais, muitas vezes em tiragens artesanais. Márcio Sno, também zineiro de longa data, já lançou três documentários sobre tema e colocou no mercado, em 2015, mais um valioso instrumento para os pesquisadores sobre o assunto: o livro “O universo paralelo dos zines”. Ele conversou conosco sobre o livro, os docs e projetos para 2016!

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Depois dos documentários, escrever um livro sobre o tema é uma proposta arrojada. Como surgiu a ideia?

Na verdade, a escrita do livro veio antes dos documentários. Iniciei uma pesquisa independente a partir de 2005, quando lancei a cartilha “Fanzines de Papel”. Passei então a ficar fissurado por tudo que falasse sobre zines: livros (nacionais e importados), artigos, monografias e, em um momento, achei diversos documentários gringos sobre o assunto. Aí passei a procurar algum que falasse essencialmente sobre zines e não achei (mais tarde descobri que havia um) então, entrei em pânico: como assim não tinha documentários sobre zines no Brasil? Peguei uma filmadora emprestada e saí entrevistando zineiros do Brasil todo, com a ajuda de alguns amigos. Nesse meio tempo, continuei a pesquisa, mas só retomei a escrita em 2013, assim que lancei o último capítulo do Fanzineiros do Século Passado (nome da série de docs). Não diria que é uma proposta arrojada, foi tudo feito de forma intuitiva e descompromissada. As coisas fluíram naturalmente e eu apenas coordenei os pensamentos e fatos.

Você acha que, de alguma forma, o livro O universo paralelo dos zines e os filmes da série Fanzineiros do Século Passado se complementam?

Creio que sim. Embora eu tenha adotado um tipo de escrita na linha “bate papo no boteco”, creio que livro seja mais a teoria e os documentários sejam a história em carne e osso, contada por quem, de fato, entende do assunto: os zineiros. No livro, sou eu falando sobre o assunto e nos documentários, são os zineiros os porta-vozes. Curiosamente, não utilizei nada dos depoimentos dos docs no livro, exceto a frase de Elydio dos Santos Neto que abre o impresso.

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Na estreia, o doc conta um pouco sobre os zineiros antigos e como era produzir em uma realidade analógica pré-internet.

Como você começou a se interessar pelo universo dos fanzines?

Essa minha história com os zines já tem mais de 22 anos. Foi numa época que eu tinha contato com muitas bandas independentes e descobri. meio que sem querer, os zines em uma seção da revista Rock Brigade. Assim que os zines caíram em minhas mãos, foi automático: passei a produzir! Mas nesse meio tempo atuei em diversas frentes com os zines: zineiro, pesquisador, oficineiro e ainda dou assessoria para pessoas que pesquisam sobre o assunto.

Você acredita que muitos zines impressos ainda são produzidos nos dias de hoje?

Não só acredito, como recebo, troco e adquiro muitos zines hoje! Não dá para se comparar com a quantidade que tínhamos antes da chegada da internet, em meados dos anos 1990, mas temos um número bastante considerável de publicações circulando. A exemplo disso é só perceber a quantidade de feiras de publicações independente que rolam pelo Brasil e a quantidade de expositores que temos nessas feiras. O zine mudou, evoluiu, se transformou, chegando ao ponto de ficar até difícil de se conceituar um zine de uma outra publicação.

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Nesse capítulo mostra a importância dos zines para as bandas de rock independente até meados dos anos 90 e também as diversas iniciativas para estimular a produção impressa.

Qual foi a maior dificuldade para desenvolver o projeto do livro?

O atraso para o lançamento. Fechei o texto em 2013, pois havia uma expectativa de eu ser demitido do emprego e, com parte da indenização, lançaria o livro. Fui iludido com falsas promessas e, com isso, tive que adiar um ano o lançamento (só consegui ser demitido em dezembro de 2014). Porém, o espaço entre ter a grana na mão e o lançamento foi muito rápido, graças à incrível sintonia que eu a minha editora, Ana Basaglia (Editora Timo, que lançou o livro), que fez um excelente trabalho.

Uma inevitável questão é sobre o convívio entre publicações impressas e digitais. Alguns fanzineiros de ontem agora se dedicam a blogs…

Então, isso, na verdade, foi um boom. E tudo que explode, depois assenta. Os zineiros acharam na internet uma possibilidade mais barata para publicar suas coisas, lembrando que em meados dos anos 1990 tudo era muito difícil: as taxas eram caras, a “xerox” era vagabunda e tudo era muito mais lento. A internet então era uma salvação. Hoje há menos blogs ativos do que há 5, 10 anos, pois as redes sociais já dão conta. Eu mesmo não uso meu blog há anos, o que tenho que publicar, comentar etc e tal, eu boto no Facebook em álbuns de fotos, que transformei em postagens. O acesso é mais fácil e, consequentemente, há mais pessoas que acompanham o que ando fazendo. Eu nunca assumi um discurso de que o virtual vai matar o impresso ou o impresso é melhor que o virtual: cada um tem seus prós e contras, que não dá pra comparar. Posso te listar um monte de coisas. Tanto que no meu livro, eu preferi chamar o capítulo sobre o assunto de “Zines E Internet” e não “Zines X Internet”, mesmo porque acho esse discurso meio vazio hoje em dia, pois você pode muito bem trabalhar um a favor do outro.

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No último capítulo, é abordado o uso dos zines em sala de aula, como objeto de pesquisa, a influência deles na vida dos zineiros e uma pequena discussão sobre o futuro dos zines.

Por outro lado, na internet existe um manancial grande de oferta de sites e blogs, etc, então a concorrência é enorme e a pessoa fica à mercê de ser encontrada. Já com o zine impresso, o leitor recebe nas mãos… Ser impresso é uma condição para ser fanzine?

Pois é, creio que é essa infinidade de ofertas que está tornando os blogs menos acessíveis. É como uma agulha no palheiro. O excesso diminuiu a fidelidade do leitor. Olha, dentro do que eu conceituo como zine, ser impresso é uma condição primeira. É a característica principal é a questão tátil. Sim, existem muitos sites e blogs com o mesmo espírito e atitude dos zines. Mas não são zines, pois a plataforma é outra. Logo, podem chamar de sites, blogs, e-zines, zines virtuais, mas nunca apenas zine. E isso não é uma questão se segregação, como alguns podem achar, é uma questão apenas de conceito.

Há pessoas que ao defender o zine impresso, argumentam que o processo era muito mais independente e puro. Hoje em dia, quem produz na internet quase sempre tem que se vincular à divulgação do google, facebook, youtube e outros gigantes. Por outro lado, se optar por ser apenas analógico, ficará com uma divulgação bem restrita. Como você vê essa questão? Você já percebeu esse questionamento em alguns fanzineiros?

Quero deixar bem claro que não sou conivente a essa essa opinião de “mais independente e puro”. Acho que esse critério só pode ser avaliado em relação ao conteúdo desses materiais e/ou postura de seus respectivos editores. Não gosto de fazer esse tipo de comparação, pois acho que isso já é um discurso superado. Quer saber o porquê? Não pense que o zine impresso não dependa da plataforma virtual para se divulgar. Depende muuuuito! Logo, esse é um dos exemplos de como o impresso e virtual podem conviverem juntos. No ano passado lancei 12 zines e 99% da divulgação deles foi feita de forma virtual, com e-flyers por e-mail, redes sociais e até por WhatsApp. E esse exemplo não cabe só a mim, todos os zineiros usam dessa estratégia, creio que ninguém se arrisca em divulgação apenas analógica hoje em dia. Aderir a isso, além de ser um retrocesso, é impedir que mais pessoas conheçam seu trabalho.

O livro é uma pesquisa bem completa. A que tipo de público você recomendaria a leitura?

Obrigado pelo apontamento. Foram oito anos de pesquisa independente e autônoma, fazendo da minha forma, do meu jeito, no meu ritmo. Feito com a única intenção de ajudar a suprir uma lacuna de livros sobre o assunto no Brasil. Eu indicaria “O Universo Paralelo dos Zines” para quem está pesquisando sobre o assunto, zineiros dessa geração e das antigas, curiosos, educadores e para pessoas que têm interesse de sair da rotina e fazer algo diferente.

Márcio Sno 1 - Foto Felipe Sousa

Você vai manter a pesquisa sobre o tema? Virá algum filme novo ou livro?

Quando eu lancei o livro, em maio de 2015, falei que meus serviços para o fanzinato nacional já estavam completos e que já poderia morrer feliz. Mas a gente nunca sabe o que está por vir, né? Filme não quero mais. Dá muito trabalho e há muita cobrança das pessoas e isso me enche muito o saco. Não tenho mais paciência. Livro, eu gostaria de lançar um sobre Oficinas de Zines, que já tenho 10 anos de experiência e creio que acumulei muito conhecimento e preciso passar isso adiante. Mas é um plano meio a longo prazo. Talvez lance em formato de zine. Ou melhor, de metazine, ou seja, um zine falando sobre zines. Nesse caso, mais especificamente, um zine sobre oficinas de zines.

Há novidades para 2016?

Em meu segundo ano como autônomo, estou indo com calma, pois preciso ter algumas certezas financeiras para poder dar conta de meus projetos. Porém, tenho, além do metazine, um pequeno romance sobre um período da minha vida, um zine sobre o Odair José (a exemplo do ZineVon) e quero muito retomar um zine de cultura pop na linha do Arreia!, que lancei entre 2005 e 2006. Também vou dar uma reestruturada na minha lojinha de livros, zines e afins, continuar com as oficinas de zines e também preparo oficinas com outros conteúdos além dos zines.

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Márcio Sno Produções: www.facebook.com/marciosnoprod

  • Capítulos da série de documentários Fanzineiros do Século Passado no Vimeo:

Capítulo 1 : https://vimeo.com/19998552

Capítulo 2: https://vimeo.com/41393497

Capítulo 3: https://vimeo.com/67697733