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Entrevista

Conheça a banda Humbold, representante da nova safra do rock brasiliense

Por Tayane Sampaio

A Humbold surgiu como um projeto individual, sem muitas pretensões. A Les Millows, banda anterior do Guilherme de Paula (voz e guitarra), tinha acabado e, sozinho, ele começou a botar no papel todas as ideias que estavam martelando sua cabeça. Tudo foi tomando forma e expandiu para além da jornada solo de Guilherme. Atualmente, a Humbold é formada por Lorena Lima (baixo), Guilherme Breda – Guizão (guitarra), Matheus Grossi (bateria) e Guilherme.

As letras da banda são cheias de significados e se moldam a várias realidades. A narrativa, com começo, meio e fim, remete à ideia de travessia: por lugares, sentimentos, lembranças, sensações. O instrumental, muito bem trabalhado e executado, também conta uma história, que se entrelaça com os versos e cria um universo cheio de canções de fácil identificação.

Com influência de bandas gigantes como Queens of the Stone Age e Muse, a Humbold conseguiu incorporar essas referências na sonoridade da banda, mas sem perder sua identidade ou cair na mesmice do rock de arena.

Em uma conversa descontraída, Guilherme nos contou mais sobre a Humbold, sua trajetória e processo criativo.

Humbold 2017 por Lai Victoria
Humbold 2017 por Lai Victoria

Como a Humbold nasceu?

Eu escrevi umas duas músicas no começo da banda, bem no comecinho mesmo, e depois comecei a procurar uma galera pra poder tocar. Perguntei se uma amiga, Ana Clara, não pilhava e aí ela chamou a Lorena, que foi a primeira pessoa da formação atual a entrar na banda. A gente foi pra estúdio, começou a testar umas músicas, aí tive a ideia de fazer os EPs. No final de 2015, já estávamos com as gravações adiantadas, o “I” já estava praticamente gravado, só faltavam as baterias. Conheci o Anderson (MDNGHT MDNGHT)  e convidamos ele pra gravar, sem compromisso, se ele curtisse a gente veria o que fazer no futuro. O Guizão também foi mais ou menos assim. Ele é meu amigo há anos, a gente já tocou muito, mas sem ter banda. Tinha um espaço na banda pra segundo guitarrista, mas era pra ser um cara que pensa em guitarra sem fazer sons de guitarra, um cara que pudesse tocar teclado, sintetizadores, guitarra ambiência… que é uma coisa que nem todo guitarrista faz. Era a vaga pra um Guizão e ele acabou topando.

Nota da Redatora: Nesta semana, a banda anunciou que Anderson Freitas saiu da banda.

Apesar de cada EP ter identidade musical e temática diferentes, todas as músicas lançadas até agora fariam sentido em um único álbum. Por que vocês decidiram lançar três EPs ao invés de um álbum completo?

Porque também tem uma questão de direção musical. O “I”, por exemplo, foi produzido pelo Bepo (MDNGHT MDNGHT); o “II” e “III” foram produzidos pelo Victor Hormidas (Ape X and The Neanderthal Death Squad), um cara muito mais focado em metal. O estilo de produção é muito diferente, e isso foi deliberado. A ideia seria que o primeiro EP fosse bem diferente, com uma pegada bem mais intimista, melancólica, com elementos eletrônicos. Isso é uma coisa que a gente sabia que queria extrair mais do Bepo, ele tem um ouvido muito bom pra esse tipo de timbre, pra teclados e tal, e eu queria que cada EP soasse mais ou menos como os pais deles. O segundo e o terceiro, que gravamos com o Victor, soam um pouco mais parecidos entre si, mas eles têm uma pegada diferente. O segundo é mais despido, mais cru, não tem tanta firula; o terceiro foi o que a gente decidiu pirar, em questão de timbres e instrumental… são instrumentais muito grandiosos, foi o que a gente se deu mais liberdade. Então, assim, do ponto de vista de direção musical, fazia sentido gravar três EPs, porque, embora eles sejam parecidos, eles não têm aquela coesão que a gente espera de um CD, pelo menos pra gente. E, do ponto de vista conceitual, nós queríamos lançar o primeiro pra poder ser digerido de uma forma, o segundo ser digerido de outra forma e o terceiro também.

Com qual dos EPs você mais se identifica e por quê?

No momento, o terceiro. Ele tem um quê de otimismo, mas não é um otimismo besta, é um otimismo um pouco mais maduro, mais realista. Fiquei um tempo sem escutar e recentemente eu fui ouvir e pensei “cara, era exatamente isso que eu queria que tivesse acontecido, tá do jeito que eu queria!”. Ele tá falando comigo de uma forma que eu nunca pensei que ia falar, porque eu escrevi isso. Tá sendo muito bacana essa experiência. O mais legal é que o “III” foi o que mais teve colaborações de pessoas de fora e dos outros integrantes da banda.

Como funcionou o processo de composição dos EPs?

A parte de letra foi composta toda no começo. Primeiro, eu escrevi umas quatro ou cinco músicas, que, aparentemente, não dialogavam tanto entre si, elas tinham mais ou menos a mesma vibe, na época. Tanto é que algumas músicas estão no “III”. Depois que eu cheguei numas seis ou sete músicas escritas, percebi que existia meio que uma linha narrativa, um conceito no que eu estava fazendo. Eu entendi o que eu queria fazer, aí comecei a escrever até que chegou em um ponto em que tínhamos umas dezessete músicas. Eu comecei a revisitar as letras, pra ver o que eu podia reajustar dentro do conceito fechado, porque algumas coisas que eu escrevi foram saindo, mas depois eu vi que faziam sentido e fui reescrevendo algumas coisas.

Além da música, teve alguma outra coisa que inspirou a criação da série de EPs?

Não teve uma fonte de literatura, mas foi muito uma questão pessoal, sempre foi uma coisa muito pessoal pra mim. Eu sempre tive essa ligação muito forte com o mar. Na minha infância e adolescência, eu ia pescar com o meu pai, a gente passava dias dentro de um barco, no meio do mar do Pernambuco. Era uma coisa que eu estava acostumado, que gostava e me intrigava muito. Sempre gostei muito de como o mar é uma figura de linguagem e também uma força da natureza tão incrível. Meu livro favorito, por exemplo, é “O Velho e o Mar”, do Hemingway.  Quando comecei a escrever, eu sabia mais ou menos o que eu queria contar, eu gosto muito de histórias que você pode contar de forma clara, mas que tem uma história mais simbólica de fundo. Eu gosto dessas histórias que você tem um subtexto mais alegórico, por isso tem algumas palavras e algumas figuras que a gente repete muito, porque elas adquirem significados diferentes dependendo do momento que elas entram.

 Vocês afirmam que a banda não é o começo ou o destino, mas a viagem. Querendo ou não, essa viagem tem que levar vocês a algum lugar. Qual seria o destino dos sonhos de vocês?

A reposta clichê seria “quero tocar em estádios”. Sempre imaginamos a Humbold como banda de palcos grandes, achamos que funcionamos melhor em palcos grandes e isso é uma coisa que a gente sempre gostou muito. Do ponto de vista de sucesso, acho que uma banda que me vem muito à cabeça, quando penso de sucesso pra Humbold, seria The Dear Hunter. Eles não são uma banda muito grande, não estouraram, mas tem uma coisa que eu admiro absurdamente neles: como são íntegros com o que eles fazem e como eles conseguem fazer coisas de excelente qualidade. As pessoas que gostam da banda são apaixonadas não só pela banda, mas pelo conceito das músicas, do projeto que eles fazem. Eu acho que o objetivo é você tocar com uma plateia que você não precisa subestimar pra poder alcançar, pra que você possa trabalhar conceitos dentro do seu disco, não precisar apelar pra alguém ou alguma coisa.

Escute:

https://open.spotify.com/embed/artist/2CwHBqjCDTJYcZMCzM60Yk

Foto da capa: Marcella Lasneaux

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