Por Guilherme Schneider | @Jedyte
Dizem por aí que “de gênio e de louco todo mundo tem um pouco”. Talvez seja verdade. Às vezes, no campo da música, a linha entre loucura e genialidade seja mais tênue ainda, especialmente para dois cantores que brilharam recentemente no Circo Voador: Rogério Skylab e Arrigo Barnabé.
Foi no último 21 de outubro, uma sexta-feira bastante chuvosa. Os dois apresentaram repertórios repletos de pérolas criativas. E que fique claro, ao meu entender, que tudo se passa bem longe de um show de humor – como alguns ainda encaram as obras dos dois. Cada frase parece meticulosamente estuda, por quem tem gosto pela palavra – e seus efeitos imediatos.
O primeiro a entrar no palco foi Skylab. Jogando em casa, o carioca que recentemente completou 60 anos, foi recebido nos braços do público que lotou o Circo. Era dia de lançar o DVD “Trilogia dos Carnavais – 25 anos de Carreira ou de Lápide”, que como o ano diz celebra as “bodas de prata” de sua carreira. Especialmente dos seus três últimos álbuns, lançados entre 2012 e 2015.
Particularmente esse foi o terceiro show que vi do Skylab – e provavelmente o mais pesado – méritos para o trio Yves Aworet (baixista), Thiago Martins (guitarrista) e Bruno Coelho (baterista). Rogério entra no palco cantando com uma vontade impressionante. Sempre muito intenso em seus gestos e expressões, ele canta um setlist que surpreende por focar músicas que não estão no DVD – e com isso mais clássicos.
Destaques para as músicas que fazem perguntas incômodas: “Tem Cigarro Aí?” e “Você Vai Continuar Fazendo Música?“. Visceral. Como de costume “Carrocinha de Cachorro Quente“, “Fátima Bernardes Experiência” e “Matador de Passarinho” são as com recepção mais calorosa. O povo em êxtase acompanha e participa ativamente cantando.
Cinco anos mais velho que Rogério, o paranaense Arrigo Barnabé entra em seguida para fechar a noite. Típico músico vanguardista, que brilhou no início dos anos 80 destilando experimentalismo musical. O show foi uma oportunidade rara de ouvir sua obra prima na íntegra: o álbum Clara Crocodilo.
A ‘ópera pop’, como classificado pela Rolling Stone, é um jazz dos infernos – no bom sentido! Difícil de entender, até por conta da metódica e incomum construção musical, Arrigo se faz próximo do público por sua simples presença ao teclado.
É ovacionado do início ao fim. Destaques para “Clara Crocodilo“, “Diversões Eletrônicas” e “Sabor de Veneno” – esta última tocada duas vezes, na abertura e final do show, em um bis aparentemente inesperado para a banda. E que banda! Arrigo segue à frente de seu tempo e dos nossos tempos.
Rogério Skylab
- Frank Disko
- A Dança do Corpo e dos Membros
- Carne Humana
- Dedo, Língua, Cu e Boceta
- Eu Me Contradisse Ou Não Me Contradisse
- Na Festa do Meu AP
- Bengala de Cego
- Tem Cigarro Aí?
- Eu Pratico Futebol de Cego
- Câncer no Cu
- Você Vai Continuar Fazendo Música?
- É Tudo Atonal
- Carrocinha de Cachorro Quente
- Música Pra Paralítico
- Fátima Bernardes Experiência
- Eu e Minha Ex
- Matador de Passarinho
- Eu Tô Pensando
- Hoje
Arrigo Barnabé
- Sabor de Veneno
- Infortúnio
- Dedo de Deus
- Orgasmo Total
- Acapulco Drive-In
- Diversões Eletrônicas
- Office-Boy
- Clara Crocodilo
- Sabor de Veneno (Bis)