Categorias
Resenha

Resenha: Wander Wildner @Teatro Rival

Por Guilherme Schneider | @Jedyte | Fotos: Marcelo Mirrela

Às vezes as boas oportunidades da vida estão pertinho de nós. E, infelizmente, nem percebemos. Um bom exemplo foi no último dia 3 de novembro. Uma quinta-feira chuvosa no Rio de Janeiro que poderia passar desapercebida – ainda mais na noite do Centro da cidade. Mas, havia algo de especial para acontecer no Teatro Rival: show de graça do Wander Wilder.

Mesmo garimpando para atualizar sempre a Agenda de Shows, não tem jeito: um ou outro show acaba de fora por desconhecimento. Por muito pouco não perdi o retorno do ex-vocalista dos Replicantes – fundamental banda oitentista de punk rock do Rio Grande do Sul. Fiquei sabendo na véspera, por acaso. Desde o show de junho, quando abriu para o Ira, fiquei com o som do Wildner na cabeça.

Confesso que pouco conhecia até então, mas, depois disso, virei fã do cara. Muito graças a sinceridade de um show ao vivo. O proclamado ‘bardo do punk brega‘ trouxe novamente um show à altura da expectativa recém-criada. Apesar do show de gratuito (vale muito a pena ficar de olho na programação do Teatro Rival), a casa encheu mesmo pertinho da hora do show – dando até um susto. Porque, convenhamos, seria muito injusto.

Aos 57 anos Wander Wilder mostra a fome de um garotão. Novamente fazendo tabelinha o talentoso Power Trio carioca Beach Combers, Wildner fez um show que foi crescendo aos poucos. Começou na voz e violão, sozinho, ao lado do LP ‘Feito para Dançar 9″ de Waldir Calmon, que servia de decoração do belo palco da casa. Até a entrada dos Beach Combers a maioria do público estava sentada nas mesas, como quem apreciava um show num bar.

Porém, a medida em que as cervejas desse bar iam sendo consumidas, o povo se levantava para dançar. O repertório pedia isso. Presentes as principais músicas da coletânea Wanclub, lançada neste ano. Sinceramente, para mim um dos melhores álbuns do ano – mesmo que não se trate apenas de lançamentos. Um resumão da carreira, que merece ser ouvido já, com regravações desde o tempo de Replicantes até as composições mais novas.

Músicas como ‘Bebendo Vinho‘, ‘Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro‘, ‘Um Lugar do Caralho‘, ‘Surfista Calhorda‘, ‘Astronauta‘, ‘Amigo Punk‘ esquentaram o clima. Que presença. Um canastrão raro e necessário para o rock nacional.

Há quem diga que o público dos shows do Wander Wildner é quase sempre o mesmo. Habitués que não querem perder aquele vibe. Ganharam mais um para o time. E, espero que a crescente siga se confirmando – até porque tem álbum novo saindo do forno.

A saideira foi ao som de ‘Festa Punk‘, hino do gênero no Brasil. Palco devidamente invadido e aquela energia caótica que o underground pede. Wander agradeceu ao público, elogiou a casa e foi pra galera literalmente. Que volte mais vezes.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Categorias
Resenha

Resenha: Ira e Wander Wildner @Circo Voador

Por Guilherme Schneider | @jedyte

No último sábado (25/6) o Circo Voador pôde presenciar dois nomes fundamentais do rock nacional: Wander Wildner e Ira! A noite fria para os padrões cariocas (chavão inevitável nas resenhas mais recentes do RIFF) foi muito melhor do que o imaginado. Mesmo do alto dos meus 33 anos, me senti um garoto, em um Circo praticamente lotado de quarentões e cinquentões.

Muitas vezes passamos batidos por shows assim, de figurões nacionais. Talvez por conta de uma (errada) ideia de que “podemos ver essas bandas quando quisermos”, ao menos em comparação com as gringas, mais “valorizadas”. Confesso que só havia visto o Ira! no Rock in Rio III, em 2001 – em show dividido com o Ultraje a Rigor.

13548886_10153691020751961_581911147_o

O que dizer então da abertura, do ex-Replicante Wander Wildner? Nunca tinha visto um show do bardo punk ao vivo. Certamente por conta disto eu tinha uma imagem totalmente equivocada do gaúcho. Muito por causa do “Acústico MTV: Bandas Gaúchas”, especial de 2005 que deu um gás nas carreiras de Cachorro Grande, Bidê ou Balde, Ultramen e do próprio Wander Wildner.

A imagem que (envergonhadamente) guardei foi completamente desconstruída por um show arrebatador. No palco, Wander é um cara que passa uma sinceridade absurda. Posso até estar enganado, mas o que ele canta é verossímil. Você consegue sentir mesmo aquela emoção.

O setlist foi pautado em seu mais recente lançamento, Wanclub, que saiu em março. Trata-se de uma coletânea, com regravações de diversas fases da carreira – diga-se de passagem, upgrades. Destaque para Astronauta, Mantra das Possibilidades, Eu Queria Morar Em Beverly Hills e Surfista Calhorda. Um Lugar do Caralho (Júpiter Maçã) e Amigo Punk (Graforréia Xilarmônica) deram o tom de homenagens ao aclamado rock gaúcho.

Além do comanchero velho de guerra Jimi Joe (guitarra), Wander teve a companhia do competente trio carioca Beach Combers. Rouquidão poderosa, postura rock and roll despojada, e a cara-de-pau de se denominar um ‘punk brega’ fazem dele um herói da resistência digno. Ovacionado, o magnético Wander deixou o palco com o hino Festa Punk, clássico dos Replicantes.

Logo depois foi a vez do Ira! entrar em cena. Liderado pelos lendários Nasi (vocal) e Edgard Scandurra (guitarra), o Ira! está cada vez mais família. Daniel Rocha, filho de Scadurra, é o baixista. Johnny Boy (teclado) e Evaristo Pádua (bateria) completam a banda.

Com o perdão de qualquer trocadilho, o show do Ira! foi iradíssimo! A ideia era comemorar os 30 anos do segundo álbum de estúdio, o “Vivendo e Não Aprendendo” – gravado no Rio de Janeiro e produzido pelo Liminha. Nasi cantou todas as músicas, tanto do Lado A quanto do Lado B. Algumas, como Casa de Papel, não eram cantadas ao vivo há décadas.

Mas a banda também tocou músicas de outros discos, no início e no final do show. Em Bebendo Vinho, Wander Wildner subiu novamente no palco, junto com Jimi Joe, para uma tabelinha sensacional.

13569862_10153691020856961_53466621_o

A sequência de sucessos do cancioneiro roqueiro nacional foi incrível. O público cantou alto em Envelheço na Cidade, Dias de Luta (inclusive com o seu “refrão secreto”), Flores em Você e Núcleo Base. Destaque também para a irresistível Pobre Paulista, iniciada com um direto “Pau no cu do Bolsonaro”.

Estranhamente o som do Circo não esteve em seus melhores dias, justamente no Ira!, mas nada que atrapalhasse a noite de celebração de um dos álbuns mais importantes do rock brasileiro. É um privilégio ver (e ouvir) ao vivo Scandurra, um dos maiores da história no país. Além, é claro, de Nasi, emocionado com mais uma recepção calorosa no Rio. Saiu do palco aos gritos de “Ole, ole, ola, Ira, Ira!”, aquela certeza de quem vive, aprende e ensina como pode.

setlist

SETLIST IRA! (RJ – 25/06/16)

13523834_10153691021526961_1732419230_o