Por Laura Tardin I @FlamingoLaura
Terça feira, 22 de setembro. Pode não parecer, mas em algum lugar do estado do Rio de Janeiro, há uma grande agitação. Pessoas nas ruas, shows gratuitos, celebração. O município de São Gonçalo, segundo maior em população no Rio, completa 125 anos com um dia de desfiles e apresentações.
Desde que comecei a acompanhar o Biquini Cavadão, consigo entender que eles têm uma enorme capilaridade pelo país. Não há local que o Biquini não foi, não irá ou pelo menos não iria. Em sua turnê de 30 anos, “Me Leve sem Destino” – considera-se o ano de 1985 o início das atividades da banda, quando fizeram seu primeiro show pago – eles têm um itinerário de dar inveja aos mochileiros. Oiapoque ao Chuí. Sua próxima apresentação é em Rio Branco, capital do estado do Acre.
Para tanto, São Gonçalo é logo ali. Por que não?
Fotos: Laura Tardin
A banda entende, com inteligência e sensibilidade, que cada show é uma nova chance de conquistar outro público, novas pessoas, novos fãs. Há um esforço coletivo de cativar quem quer que esteja na plateia. Acostumados com grandes shows e festivais com outros artistas, o Biquini sabe que, muitas vezes, o público não está ali especialmente para vê-los. Nestas situações, há a tentativa de comunicação com quem está do outro lado do palco.
Esta é uma dessas noites. Os autores de “Tédio”, canção reinventada pelo popular Mr. Catra, se apresentam às 21h em um dia em que o público já viu Claudia Sing, Viny Spindolla e o grupo de pagode Bom Gosto. Quem são esses caras? A escolha de Biquini Cavadão como “headliner” parece óbvia, certo? Talvez não para esse público. O que milhares de gonçalenses esperavam era o hit “Vai Muleke Doido”, o funk mais famoso do mês.
O Biquini não se intimida. Faz um show como todos os outros – ora emocionante, ora alegre, sempre energético. Hits como “Vento Ventania”, “Janaína” e “Dani” demonstram o lado romântico e leve da banda. “Zé Ninguém” e “Livre”, do último disco, são entoadas como hinos necessários no Brasil. “Carta aos Missionários” e “Chove Chuva” empolgam a toda e qualquer pessoa.
“Vocês sabem por que não existe rock universitário? É porque o rock é pós graduado!”
“Vocês sabem por que não existe rock ostentação? É porque o rock nunca vai ser ostentação. O rock é contestação!”
Bruno Gouveia, vocalista, anima e conversa com a plateia. Com um quê de interpretação e muita ação, ele mantém o público na ponta dos dedos, brincando com gestos, movimentos e até balizadores de avião. Quanto mais se comunica, mais o público se envolve. É aí que o Biquini pode e ganha mais e mais ouvintes. Em consequência, possíveis fãs. E lá se vão 30 anos.
Há um momento do show em que o guitarrista Carlos Coelho vira o próprio guitar hero e toca diversos riffs de rock das décadas – “Back in Black“, “Seven Nation Army“, “Satisfaction” – e todos, mais uma vez, acompanham a plenos pulmões. Isso me faz pensar como o rock é democrático. Conheço muitas pessoas que não gostam de funk ou que simplesmente se recusam a ouvir uma canção sertaneja. Mas não conheço nenhuma pessoa que desconheça o riff de “Seven Nation Army“, eternizado até pelas torcidas de futebol. Também não conheço nenhum brasileiro que não saiba cantar pelo menos uma das músicas do Biquini Cavadão.
- Tédio
- É Dia de Comemorar
- No Mundo da Lua
- Janaína
- Roda Gigante
- Livre
- Impossível
- Múmias
- Vou te Levar Comigo
- Quando eu te Encontrar
- Dani/Uma Brasileira
- No Mesmo Lugar
- Vento Ventania
- Carta aos Missionários
- Chove Chuva
- Timidez
- Guitar Hero (Medley instrumental de Back in Black, Seven Nation Army, Satisfaction e outras)
- Zé Ninguém
- Tédio ’85